segunda-feira, 26 de março de 2012

"A cara do polícia era de raiva"

Esta manifestação começou calma, muito calma. Gente a conversar, juntar cartazes, pessoal de bicicletas, amigos sentados no chão no Saldanha. Arranca não arranca, quase uma hora depois começaram a andar. Do Saldanha seguiram em direcção à Avenida Almirante Reis e mais tarde ao Rossio. O único ponto mais "quente" foi em frente ao Banco de Portugal onde a polícia teve que fazer um cordão por causa dos ovos que estavam a ser arremessados, mas nada de especial. Durante 2 horas eu e a Patrícia Melo Moreira (France Presse) seguimos a manifestação até chegar ao Rossio onde outras plataformas se juntaram ao protesto. Ao vermos que iriam dar mais uma volta lenta à Praça sentámo-nos os dois num café a tentar editar umas fotografias (estas que aqui vêm à excepção da última) para depois os apanharmos a caminho da Assembleia da República onde pensámos que possivelmente poderia haver alguma situação mais "quente". Acabou por não dar tempo para editar. 
Começámos a subir a Rua do Carmo, depois a Rua Garret onde começámos a ver o movimento anormal de carrinhas de Polícia de Intervenção e corremos até ao sítio para onde se dirigiam. Perdi-me da Patrícia e fui direito ao rapaz que aparece em todos vídeos a tirar o sangue da testa e atirar para cima da Polícia e apenas tirei uma fotografia (a penúltima aqui). Não tive tempo para me aperceber do que realmente estava a acontecer ali. Quando me virei para trás tirei esta última que aqui está e vi que estavam a começar a avançar e que iriam varrer tudo o que estava à frente. Por mais absurdo que possa ser o comunicado da PSP que refere que nós jornalistas devemos estar atrás da linha policial (provavelmente para apanhar a cara de quem leva e não a de quem bate, como diz o Francisco Paraíso hoje no CM), foi exactamente isso que eu tentei fazer porque me vi numa situação em que iria ser apanhado no meio da confusão sem sítio para escapar. Andei na direcção deles a dizer que era jornalista em voz alta e fiz sinal para que me deixassem passar para trás da linha que estavam a fazer e foi aí que me bateram pela primeira vez na cabeça e caí ao chão. O resto as imagens mostram como foi, sendo o resultado dois cortes na cabeça, 6 pontos, ombro, costas e joelhos amassados mas acima de tudo uma sensação de medo e impotência perante tudo o que estava a acontecer. A cara do polícia que me bateu era de raiva, até a língua estava a morder. Repeti não sei quantas vezes que era jornalista em pânico e nem assim ele parou, ainda deu com mais força. Nunca pensei que aquilo pudesse acontecer cá. 
Ainda mais revolta causa ver as imagens da Patrícia a ser agredida daquela maneira! Como é possível?! Desde quando uma mulher com uma câmara fotográfica é ameaça para alguém? Não sei se foi premeditado ou não, mas a falta de inteligência daqueles animais não alcança que para cada câmara que tentam que não fotografe ou filme a sua brutalidade há dezenas de outras a captar o que está acontecer. E o resultado está à vista. As imagens daquelas duas senhoras já mais velhas, uma a levar uma joelhada no peito e outra a ser atirada ao chão também não há palavras para descrever. Parabéns a quem captou tudo isto para que se possa ver e rever. A única coisa boa que se tira disto é exactamente a atenção que o assunto está a ter, para que não se repita. 

P.S. Muito obrigado a todos pelas mensagens, telefonemas, e-mails, etc! Mesmo. Foi mais o susto, mais uns dias e estou a trabalhar de novo.

Nota do editor: Este relato foi retirado do blogue do fotojornalista JOSÉ SENA GOULÃO e testemunha a agressão de que foi alvo por parte dos elementos da Polícia de Intervenção, no dia da Greve Geral. Segundo o repórter de nada lhe valeu gritar, repetidamente, que era um jornalista em serviço. Bem pelo contrário: "A cara do polícia que me bateu era de raiva, até a língua estava a morder". Os polícias são assim: fortes com os fracos e fracos com os fortes;  intransigentes com os humilhados e ofendidos ; e  reverentes com qualquer canalha que tenha poder. Poder político ou poder económico.
Soares Novais

domingo, 25 de março de 2012

Congressistas ignorantes

«Espero que o Congresso tenha noção disso, do que acabou de acontecer», alertou o chefinho dos laranjas após estes terem votado uma moção onde os orgãos dirigentes passavam a ser eleitos em "directas" e não em congresso.
Na sequência  do insólito alerta do chefinho dos laranjas, o presidente da mesa do Congresso, que é aquele sujeito com ar de caneca das Caldas que também preside à Câmara de Viseu, propôs que se repetisse aquela votação.  Resultado: a mesma proposta acabou chumbada com 262 votos contra, 250 a favor e 33 abstenções.
Graças ao insólito alerta do chefinho, confirmou-se aquilo que se sabe há muito: a esmagadora maioria dos congressistas laranjas são ignorantes.
Tão ignorantes que até votam sem saber naquilo em que realmente votam.
Foi o chefe deles que o disse.

Soares Novais

Saudação dos três

(Música de Zeca Afonso/Os Vampiros/1963)


Saudemos o Bom Povo Português
A classe nobre e a classe pobre
E o grande e o pequeno burguês
Filhos da virgem que não perde os três

Saudemos o Pastor e a mansa rês
Aquele que nos ama enquanto fode
E se esquece de amar ao fim do mês
Culpando a troika e desculpando os três

Saudemos este Povo tão cortês
Pede socorro a quem não lhe acode
Diz mal da merda Mantém-se freguês
Deus lhe proteja os cornos e os três

Saudemos a Nova Língua O Merklês
A Europa dos bancos e da fome
É tempo de hastear a altivez
Somos muitos mil Podem vir mais três

Saudemos O Povo Unido O Abrilês
O que sofre e não cala e nunca dorme
O que um dia porá fim de vez
À sina da troika Ao fado dos três

Saudemos o Bom Povo Português
Saudemos o Pastor e a mansa rês
A classe nobre e a classe pobre
Saudemos este Povo tão cortês

Saudemos O Povo Unido O Abrilês
O que um dia porá fim de vez
À sina da troika Ao fado dos três


CÉSAR PRÍNCIPE

23/03/2012






sábado, 24 de março de 2012

A perguntadora pateta

A jovem caminha em passo decidido para a Assembleia da República.
Subitamente, encostam-lhe à cara um microfone de uma televisão.
E a pergunta sai como se fosse rajada de metralhadora:
- O que a leva a manifestar-se?
A jovem pára, bebe um gole de água da garrafa que traz consigo, fixa a jovem que a interroga e atira:
- Ao fim deste tempo todo ainda não percebeu o que nos leva a manifestar?!
E seguiu rua abaixo.
Sorrindo.

Soares Novais

sexta-feira, 23 de março de 2012

Aplaudir o carrasco

Os laranjas estão em congresso.
Um congresso que, segundo os entendidos em laranjas, apenas serve para cumprir calendário.
E, dizem também os entendidos em laranjas, para  entronizar o chefinho laranja às ordens da senhora da Alemanha.
Vai ser, pois, um fim de semana deprimente com as televisões, rádios e jornais a encheram-nos de laranjas. Mesmo que alguns se apresentem disfarçados de jornalistas e comentadores.
Passei a noite a mudar de canal.
Mas ainda topei o laparoto de Santarém a tentar dizer qualquer coisa sobre a anunciada extinção de freguesias . Com aquele ar reguila que se lhe conhece.
E, também, ouvi as declarações de um casal de reformados, que apesar de terem sido roubados nas suas parcas reformas, disseram-no eles, ali estavam para aplaudir o autor do feito.
Alguma gente é assim:  aplaude o carrasco.

Soares Novais




quinta-feira, 15 de março de 2012

O botinhas de Santa Comba

Fosse eu fascista e ficaria a odiar o actual botinhas de Santa Comba Dão para todo o sempre.
Explico: o dito botinhas acaba de anunciar que vai registar e explorar a venda de enchidos e vinho com a marca do Botas, que o Vimieiro pariu.
Ora se o botas foi assim tão bom e tão importante para o actual  botinhas de Santa Comba dar o nome do dito botas a enchidos e vinhaça é, no mínimo, uma ofensa à sua memória.
E é, também,  uma ofensa a todos os pides, legionários e correligionários que em seu nome, em nome do dito botas, perseguiram, prenderam e mataram milhares de portugueses.
Conclusão: este actual botinhas de Santa Comba Dão é um pateta.
Tão pateta como aqueles patetas que decidiram atribuir o nome de Francisco Sá Carneiro, que morreu a bordo de um avião, ao aeroporto do Porto!
Soares Novais

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sobre os assassinos económicos

Nota do editor: esta entrevista foi publicada no jornal I.  É uma entrevista imperdível, com um homem que conhece, por dentro, o mundo em que indignos de colarinho branco nos querem obrigar a viver. Mesmo que matem  inocentes e assassinem presidentes eleitos.

John Perkins. “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”

segunda-feira, 5 de março de 2012

Penhorem o Governo

CEM MIL portugueses têm os seus salários penhorados.
Por dívidas ao Fisco, aos bancos e outras instituições de crédito.
Outra coisa não seria de esperar num país onde, por ordem governamental, a esmagadora maioria dos trabalhadores viu os seus salários baixar 10% e foi alvo do roubo dos seus subsídios de férias e de Natal.
Os portugueses são pessoas sérias.
E se não cumprem é porque, por mais que poupem, os seus salários e reformas já não chegam para pagar todas as obrigações contraídas antes do assalto final de que são alvo, diariamente.
Por isso aqui fica o conselho ao Fisco, bancos, instituições de crédito e agentes de execução:  penhorem as mais valias geradas pelas negociatas de Passos & companhia, que continuam a privatizar os lucros e a nacionalizar os prejuízos.
Caso contrário bem correm o risco de ir receberem ao ... totta!

Soares Novais