sexta-feira, 27 de junho de 2014

A selecção está de regresso a casa.
De beiça caída.
Com ela regressa o engravatado sr. presidente e os senhores "vices" - feitos janotas graças a fatos feitos à medida.
E regressam, também, todos os assessores: os técnicos, os administrativos, os "olheiros", o médico, os fisioterapeutas, os 250 quilogramas de bacalhau, e o cozinheiro que ganha a vida a "arrotar postas de pescada".
Para trás fica o estágio em Óbidos; uma jogatana na Luz; mais duas nos "states"; uma chegada tardia ao Brasil; a cabeçada do Pepe; as lesões; os cortes de cabelo do Ronaldo; as "Fan Zon", que os reguilas da mátria espalharam por tudo aquilo que era terreola da pátria; e os milhares de latas de cervejola que o povo da bola consumiu para afagar as mágoas provocadas pelos rapazes de Paulo Bento.
E tudo vai continuar na mesma.
Obviamente.
O antigo jogador de "básquete" não se demite.
O seleccionador também não.
Os antigos futebolistas arvorados em "vices" também não e até o cozinheiro garante que já congelou o "fiel amigo" para o "Europeu"de 2016.
Aqui na terra é assim.
Ninguém se demite.
Temos de ser nós a mandá-los borda fora...

Soares Novais



domingo, 22 de junho de 2014

com os criminosos pobres é que não se pode comer à mesa

ALGUM MORALISMO SALOMÓNICO TEM COMO OBJECTIVO LEGITIMAR A PENALIZAÇÃO PUNITIVA DE MILHÕES PARA DESCULPAR AS DEZENAS.


As informações sobre o que se está a passar no GES, como o que nos últimos anos se veio a saber do BCP, e, andando um pouco mais para trás, toda a história ainda em curso do BPP e do BPN, mostram alguma coisa de consistente no comportamento de uma parte importante da elite político-financeira portuguesa.
Não estou a dizer que tudo tenha sido igual, mas muita coisa não sendo igual, nem em dimensão nem em consequências, é demasiado parecida para que não se anotem as semelhanças. Há excepções, com tanto mais mérito quanto escapam à regra, mas são excepções.
O que tudo isto tem em comum é em primeiro lugar a completa promiscuidade com o poder político. Os Espírito Santo frequentavam os gabinetes de Sócrates, elogiaram-no até ao dia em que o derrubaram, quando os seus interesses estavam em causa pela ameaça de bancarrota. O dinheiro fluiu nos contratos swap, usados e abusados pela governação socialista, e as PPPs contaram com considerável entusiasmo da banca nacional e internacional. Compreende-se porquê, quando mais tarde se veio a saber detalhes dos contratos leoninos que deixavam milhões e milhões para pagamento num futuro que era muito próximo.
O actual governo mereceu também da banca todos os elogios e retribuiu em espécie, impedindo que qualquer legislação que diminuísse os lucros da banca passasse no parlamento, ou ficando como penhor de bancos que em condições normais iriam à falência, mesmo numa altura em que era difícil alegar crise sistémica. O governo actual manteve todas as práticas de co-governação com a banca e as instituições financeiras que vinham do governo anterior, consolidando um efeito perverso, que não é apenas nacional, de permitir que os principais responsáveis pela crise dos últimos anos tivessem sido seus beneficiários principais.
Para além disso, mantém uma transumância de lugares e funções com a banca tanto mais reforçada quanto a sua relação com os “mercados” passava pela intermediação financeira quer em Portugal, quer fora, e a desertificação das chefias da função pública baseadas no mérito, atiradas para a rua pela demagogia do diminuir os “lugares de chefia”,  entregou áreas importantes do estado a consultoras financeiras e à advocacia de negócios. Os incidentes com secretários de estado que vinham da banca e do sistema financeiro e que se transmutavam da venda de swaps para negociadores de swaps, mostraram essa promiscuidade. E as decisões revelam como ninguém quer beliscar uma banca de onde veio, onde pode voltar a ir. A decisão de não ir a tribunal em nenhum caso mais grave de acordos leoninos quanto a PPPs e contratos swap, foi um dos maiores presentes que o actual governo ofereceu à banca. Os provados que usaram a justiça, ganharam em toda a linha, o estado encolheu-se perdeu muito.
As privatizações reforçaram esta promiscuidade, favorecendo uma captura do estado pelos interesses financeiros sem comparação com o passado. No passado, havia interesses industriais, agrícolas, manufactureiros, comerciais que partilhavam com a banca essa proximidade com o estado, o governo e os partidos do “arco da governação”. Agora, mesmo sectores em que as operações financeiras são relevantes, como a distribuição, não tem nem de perto nem de longe a promiscuidade com o poder político que tem a banca e por isso podem com maior liberdade falar criticamente.
Outro aspecto crítico, também atirado para debaixo do tapete é o papel de elite cleptocrática angolana que se exerceu também em Portugal através de uma colaboração estreita com a banca portuguesa que não se importou de contar malas de dinheiro trazidas meio às escondidas, meio com a complacência e colaboração das autoridades portuguesas, e assim permitir uma penetração na economia portuguesa, na comunicação social e na política.
Outra das coisas que se vão sabendo é como a gestão dos bancos se fazia como se o dinheiro que estava fosse pertença dos seus donos, gestores, administradores e dos seus amigos, ao  mesmo tempo que uma ríspida prepotência e intransigência é a norma de tratamento dos clientes e depositantes, a quem não se desculpa nada. Os milhares de casas, carros, empresas, bens que foram consumidos nesta voragem da “dívida”, que tornou famílias e pessoas solventes naquilo que nunca imaginaram que iam ser, insolventes, oferece um contraste flagrante com a prática reiterada de evasão e fuga fiscal dos mais ricos com dimensões muito significativas.
E é crime sem castigo, ou com leve castigo, porque não se percebe como banqueiros envolvidos em evasão fiscal e manipulação de contas (para usar o politicamente correto, porque se não fosse assim seriam falsificações de contas, contabilidades paralelas, “esquecimentos” de declarar ao fisco milhões de euros, uso quotidiano de off-shores para esconder operações financeiras, etc., etc.) não são imediatamente impedidos de exercerem actividades na banca, acto que depende dos reguladores, mesmo antes da justiça se pronunciar sobre os eventuais crimes cometidos, se é que vai alguma vez pronunciar-se.
A completa desresponsabilização sobre a crise dos últimos anos, desencadeada pelo sistema financeiro, mas de que no fim este veio a beneficiar, marca moralmente como uma doença a sociedade da crise em que vivemos. O que choca as pessoas comuns e é uma fonte enorme de descrença da democracia e de sentimento de injustiça propício a todos os populismos, é que ninguém imagina que um ministro, primeiro-ministro ou Presidente se fosse sentar à mesa com alguém que tivesse desviado uns poucos milhares dos seus impostos ou tivesse um restaurante, uma barbearia, ou uma oficina de automóveis em modo de “economia paralela”, enquanto todos os viram nos últimos anos, em plena crise, conviver agradecidos e obrigados com estes homens que aparecem agora nos jornais como se tendo “esquecido” de declarar milhões de euros ao fisco ou estando à frente de instituições bancárias que emprestaram a amigos e familiares muitos milhões de que não se sabe o rastro, e tinham contabilidades paralelas.
É por isto tudo que não aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e da classe média, por terem vividoacima das suas posses”, mesmo quando não o fizeram. E mesmo quando havia uma casa a mais, um carro a mais, um ecrã plano a mais, um sofá a mais, um vestido ou um fato a mais, umas férias a mais, uma viagem a mais, recuso-me a colocar estesexcessos” no mesmo plano moral dos “outros”. Algum moralismo salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos e dos de cima com os pequenos vícios dos de baixo e do meio, tem como objectivo legitimar sempre a penalização punitiva de milhões para desculpar as dezenas. É por isto que esta crise corrompe a sociedade e vai deixar muitas marcas, mesmo quando ninguém se lembre de Portas e de Passos.



José Pacheco Pereira – Público - 21/06/2014 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Lissabonner Requiem


César Príncipe

Um agente da Central de Inteligência Portuguesa, por rebate de consciência ou imperativo constitucional, decidiu violar o Segredo de Estado. Convocou uma Conferência de Imprensa-Relâmpago. Irrompeu (encapuzado). E justificou a acção de cara encoberta: Interceptei um Correio Diplomático Berlim-Lisboa. Trata-se do Ultimato do Segundo Mapa Cor-de-Rosa . O primeiro, o Inglês, de 1890, levou à perda de soberania africana; o segundo, o Alemão, de 2011, levou à perda de soberania metropolitana. 

Avançarei com um enquadramento histórico.
 
Terminarei com a cibertelegrafia diplomática.
 

Há 124 anos, o Povo saiu à rua e cobriu de crepes a estátua de Camões, dois artistas compuseram
 A Portugueza (que ainda se vai entoando) e até o Monarca Carlos da Boa Mesa & da Boa Cama & dos Adiantamentos da Fazenda, num Solene Gesto de Desagravo (a fim de limitar os custos de imagem), protagonizou uma rábula: devolveu as condecorações ao Nosso Mais Velho Aliado. O Ultimatum elevou a febre patriótica, contribuiu para uma agitada reportagem RTP/Regicídio do Terreiro do Paço, acelerou a Queda da Multissecular Monarchia, alargou a Base Social da República. 

E qual a postura das Novas Agremiações do Rotativismo? Acabado de assinalar o centenário do Regime Republicano (2010), a Troika da Submissão correu a subscrever o Memorando de Entendimento do Ocupante Germânico (2011), Nosso Mais Recente Aliado, no cânone protocolar. Nem sequer devolveu uma insígnia ou redigiu uma nota de desafronta. O vexame supera as raias da insolência e roça as vaias da indecência. Visa anular o último sentimento/signo de identidade nacional. Espera-se que o Poboo de Fernão Lopes acorra (ainda neste século) a tomar os rossios e os palácios, que os letristas e compositores reescrevam o Hino e que o Ilustre Peito Lusitano manifeste a Mais Profunda IndigNação. De Norte a Sul se confia que o épico dos Descobrimentos se junte às multidões espoliadas e humilhadas e retire o seu Alto Patrocínio à Cerimónia do Adeus a Portugal.
 

Na verdade, da Troika Interna pouco ou nada haverá a esperar além de servilismo, colaboracionismo, negocismo, inevitabilismo, embustismo, com voz grave ou de falsete. Seja no Parlamento da Moeda Única, seja no Governo do Pouvoir à Trois, seja na Presidência de Vichy à Portugaise. Os trigémeos juraram vassalagem a Angela Dorothea Merkel, soberana da Casa Reinante da Idade das Trevas Electrónicas, aclamada pela Europa dos Bancos & pelos Ministérios da Propaganda. Não merecem perdão eleitoral nem judicial. Foram avisados com a devida antecedência das
 bofetadas da Pérfida Álbion & das monstruosidades do Flagelo Átila. [1] 

No entanto, muito prezaríamos que algum(a) agraciado(a) ousasse ler o Elektronische Post da Chancelaria do IV Reich, num 10 de Junho, na Tribuna das Ordens Honoríficas, perante as Autoridades Civis, Militares e Religiosas, principalmente ante Thomaz II, que Deus cubra com a SIC/Sua Infinita Compaixão e faça acompanhar de Katia, anja-música.
 

Post.
 
Diktat.
 
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (no antigo regime Dia de Camões) passará a denominar-se Lissabonner Requiem. [2]

Bundeskanzleramt
Will-Brandt-Straße 1, 10557 Berlim


Notas 
[1] Antunes/Acácio (1853-1927),
 A Bofetada Ingleza, Carta a Sua Magestade El Rei e Senhor D. Carlos 1º, Tip. Mattos Moreira, 1890, Cota: 7-34-10-18/BGUC/Universidade de Aveiro/Fundação Portugal-África; Junqueiro/Guerra (1850-1923), O Monstro Alemão. Átila e Joana D`Arc. Officinas de O Comércio do Porto, 1918, CDU: 869.0-9 Junqueiro, G. Opúsculo oferecido à Junta Patriótica do Norte e cujo produto de venda se destina à sua obra de assistência aos órfãos de guerra. Uma das conclusões e um dos prenúncios de Junqueiro: A Alemanha unificando-se, pangermanizou-se(…) 
[2] Tabucchi/Antonio (1943-2012),
 Lissabonner Requiem (Requiem de Lisboa), dtv Deutscher Taschenbuch Verlag, München, 1998, ISBN 9783423126144; Hanser Verlag, München, 2002, ISBN 9783446201736. 

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 http://resistir.info/.