sábado, 30 de junho de 2012

Palrice.

Soares Novais

"Estamos muito orgulhosos. Não há um português que não esteja orgulhoso. Correu tudo bem e espero que sirva de exemplo para o próximo desafio que é o campeonato do Mundo. Esta geração tem grandes condições para que no próximo Mundial consiga fazer uma boa prestação, um Mundial que se joga no Brasil e onde temos responsabilidades por ser um país de língua portuguesa."

Não leitor, está enganado.
O autor desta palrice, esclarecida e esclarecedora, não é nenhum dos anónimos que foi à "Portela" esperar Ronaldo & companhia.
Não senhor.
Quem o disse foi o todo-poderoso ministro Relvas.
Ou seja:
- o amigo do superespião Carvalho;
- aquele que ameaçou colocar a vidinha de uma jornalista ao sol da internet;
- e que já disse apostar no careca de Sintra, outra grande e esclarecida figurinha laranja!, para ganhar a Câmara de Lisboa.
A cassete do Relvas esclarece-nos sobre aquilo que valem os office boys da troika.
Sem margem para qualquer dúvida, erro ou ilusão.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Álvaro adia assinatura.


Soares Novais


O menistro que o office boy Coelho importou do Canadá foi recebido na Covilhã com apupos.
Os populares cercaram a viatura topo de gama que o transportava, a ele e ao secretário Henriques, e durante alguns minutos o clima esteve tenso. Muito tenso.
Tão tenso que o menistro achou por bem cancelar a cerimónia da assinatura do contrato de financiamento para a construção da barragem de Ribeira das Cortes conforme se pode ler no portal da edilidade:
"Estava prevista para hoje, dia 29 de Junho, às 11h00 no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, a Assinatura do Contrato de Financiamento para a Construção da Barragem da Ribeira das Cortes com o POVT - Programa Operacional Valorização do Território, com a presença do Ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, e do Secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, António Almeida Henriques. Por decisão do Ministério da Economia e Emprego esta cerimónia foi cancelada. Qualquer informação sobre as razões desta decisão devem ser solicitadas àquele Ministério".


Nota: Fartos do roubo, acossados pelo desemprego e pela miséria, os trabalhadores portugueses começam a perder a paciência perante tanta malvadez. O protesto de ontem foi forte e significativo. Tanto que o edil local, eleito pelo partido do office boy Coelho, teve de admitir que "os trabalhadores só não foram roubados nos governos de Vasco Gonçalves". Não sei se o disse por ironia ou por puro reconhecimento da verdade. Mas disse. E disse-o nas trombas de um menistro do seu partido. Mesmo que o tenha feito para salvar a pele do Álvaro, a frase aí está registada pelos microfones das rádios e das televisões. Implacavelmente e para memória futura.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Banalidades ministeriais.


Soares Novais

"Precisamos de empreendedores para puxar o país para a frente", afirmou o ministro.
Sim,  falo daquele que  importaram do Canadá .
Ou seja: a frase foi dita por aquele que, após vários meses a menistro, chegou à genial conclusão de que podemos e devemos exportar pasteis de nata.
A frase arrebatadora, empolgante, enérgica,  forte, motivadora, nunca antes proferida, foi feita pelo senhor menistro no encerramento da conferência “Energia de Portugal”.
Temos homem, carago!


Mais 700 desempregados.

Soares Novais


Bastaram apenas 48 horas para se ficar a saber que 700 trabalhadores de Castelo Branco vão ficar sem trabalho já no próximo fim de semana: a  Delphi despede 300 e o  centro de contacto nacional ('call center') Via Segurança Social  despede 400.
Os trabalhadores da Delphi vão para o desemprego porque a empresa tem caminho aberto para extinguir os postos de trabalho que desejar, por via do novíssimo e criminoso "Código de Trabalho" que a "maioria" aprovou, com a abstenção colaborante do chamado partido socialista, e Cavaco promulgou canalhamente;  os trabalhadores do centro de contacto nacional Via Segurança Social, contratados por  uma dessas empresas a que chamam de "Recursos Humanos",  simplesmente por não terem qualquer vínculo ao Estado.
A realidade prova, assim, que Coelho e a sua gentalha apenas tem um objectivo: cumprir as ordens de quem sempre lhes deu mama...
Mesmo que atrás de si reste apenas um povo faminto e sem futuro.

domingo, 24 de junho de 2012

Mais dois boys empregados.



Soares Novais

A comissão liquidatária chefiada pelo administrador-delegado da troika acaba de empregar mais dois boys: José Luís Arnault e Miguel Moreira da Silva.
Um é aquele penteadinho que aparece na SICNotícias a dizer patetices - como aquela de afirmar que "a Grécia é um país recente"e o outro, por meríssima coincidência já se sabe, é irmão do vice do PSD, Jorge Moreira da Silva. Ambos serão administradores da REN.
O aldeia da coelha adianta que os dois boys não vão ganhar o salário mínimo e receberão subsídio de férias e de Natal.

Bojardas de um patrão português.

"Os empregos nascem em sítios que não estão ao lado de casa" os portugueses precisam de fazer "algum esforço" e “ter vontade”.

"Os homens e as mulheres de 1960 [vinham] em condições muito piores e até levavam uns tiros na fronteira. Agora vêm de jato e nem assim querem vir",

"Neste momento, a educação das pessoas em Portugal não tem comparação [com a das gerações anteriores] e, portanto, até é fácil arranjar emprego" [no estrangeiro].

"O problema do desemprego resolve-se muito bem, desde que as pessoas façam aquilo que é óbvio. O emprego fora de Portugal é, em muitos sítios no mundo, onde há muita posição, muito interessante, a ganhar muito bem. Mas Portugal não se habituou".

“Portugal deve reforçar as relações com as comunidades emigrantes na Europa e no mundo”.

Sem essa «comunhão» e sem esse «reforço de identidade, Portugal acabará por enfraquecer o sentimento e o orgulho de ser português e, uma vez anulada a ligação afectiva [entre os emigrantes e a sua terra], o país perderá um extraordinário potencial humano de que pode dispor».

“O nosso futuro como país dependerá da qualidade da nossa emigração, [da] capacidade de reconquistar os nossos emigrantes, de valorizá-los. Porque eles são, muito frequentemente, os melhores, os mais experimentados, e [têm] uma visão global do mundo, que os distingue dos que não conheceram senão o lugar onde vivem»

 «Seremos capazes, todos juntos, de voltar a dobrar o Cabo Bojador».

 

Nota do editor: O autor destas bojardas é um dos supermerceeiros que manda em Portugal. Um "talentoso patrão" que o Marco de Canavezes pariu e a quem o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães deu a mão. As bojardas foram ditas em Paris, na Câmara do Comércio e Indústria Franco-Portuguesa. E testemunham a sua vilanagem. Sem margem para qualquer dúvida.

Soares Novais

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os exemplares amigos de Cavaco.



Soares Novais


No mesmo dia em que a Procuradoria Geral da República portuguesa comunicou à comissão de inquérito sobre o BPN que estão a correr processos crime contra  Dias Loureiro, Duarte Lima e Arlindo de Carvalho, soube-se que aqui ao lado, na vizinha Espanha,  o  presidente do Conselho Geral do Poder Judicial e do Supremo Tribunal de Justiça, Carlos Dívar, renunciou a ambos os cargos.
A renúncia de Divar surge  na sequência de um escândalo relacionado com a realização de uma série de viagens não justificadas com dinheiro público.  Em causa estão 32 longos fins de semana (de quatro e cinco dias) que Dívar passava em vários destinos de toda a Espanha (nomeadamente em Marbella) e menos de 30 mil euros  gastos. Uma ninharia se compararmos com os milhões que caíram nos bolsos daqueles barões do PSD/PPD.
Aqui, na aldeia da coelha, em que alguns espertalhaços transformaram a mátria de Camões e Pessoa, ninguém de se demite ou é demitido. Mesmo que o roubo seja evidente e a opinião pública pressione.
Dias Loureiro, ex-conselheiro de Estado e amigo do peito do prof. Cavaco, é disso claro exemplo.
O amigo seríssimo não o afastou do Conselho do Estado; e ele, o beirão de famílias humildes que subiu na vida, só o abandonou quando decidiu emigrar para Cabo Verde e implorar ao deus tempo que se encarregue de o afastar das bocas do mundo...
De resto é o que se sabe: ninguém se demite; e ninguém é demitido.
Quer se trate de um barão de milhões ou de um mero pilha-galinhas local.

A lucidez revisitada*.






Correia da Fonseca

Sete anos exactos sobre a data da morte de Álvaro Cunhal, telespectador que se tenha aplicado a fazer zapping pelo menos entre os canais portugueses pode ter tido a surpresa de deparar na RTP Memória com uma entrevista com o histórico Secretário-geral do Partido Comunista Português. Não era exactamente uma entrevista sobre temas caracterizadamente políticos, tratava-se antes de uma conversa a propósito do lançamento, então ainda recente, da obra «A arte, o artista e a sociedade» (Novembro de 96). Mas é claro que não apenas tudo é afinal político, como bem se sabe, como também e sobretudo tudo claramente revela as suas implicações de natureza política quando a abordagem é feita com clarividência, como era o caso. A entrevistadora era Clara Ferreira Alves, então já com o estatuto oficioso de «jornalista cultural» mas então ainda com o cabelo negro como asa de corvo, isto é, muito longe do período louro e breve que podemos agora contemplar no programa «O Eixo do Mal». De qualquer modo, o que importa é que já então Clara exibia a bagagem cultural que hoje continua a distingui-la e já se situava, naturalmente que como muito independente, na área intelectual da esquerda não exageradamente assumida e, como aliás se viu ao longo do programa, com vincadas distâncias relativamente ao comunismo e provavelmente a todas as doutrinas e práticas que com o comunismo se assemelhem. O que, como não é difícil de adivinhar mesmo sem o visionamento do programa, não impedia Álvaro Cunhal de acolher com bonomia e o seu sorriso de incomparável simpatia essas distâncias expressas ou implícitas, um pouco como quem enfrenta pacientemente algumas traquinices infantis.

De súbito, uma diferença

Falou-se, naturalmente, dos vários temas abordados no livro recentemente publicado: da natureza do Belo e do seu valor estético, das relações da obra de arte com a sociedade, das questões que se levantam em torno da forma, por aí fora. Sempre Álvaro Cunhal se evidenciou como dialogante, condescendente para com discordâncias ou mesmo «atrevimentos» por parte da entrevistadora, didáctico quanto era necessário ou adequado. E decerto não será espantoso que eu refira que quanto Cunhal ia dizendo encontrava o meu acordo, não apenas pela circunstância de eu já ter lido o livro que motivara a entrevista (embora em certos aspectos já o ter esquecido um pouco, como logo a seguir vim a verificar), mas também e sobretudo por, guardadas as devidas e enormes distâncias, haver entre nós uma identidade de opiniões e convicções. Eis, porém, que a dada altura começo a ficar surpreendido: quando Álvaro Cunhal claramente expressava o seu desacordo quanto à intervenção do Estado da antiga URSS sobre certos aspectos da criação artística, designadamente a desaprovação e mesmo hostilidade perante formas susceptíveis de desencadear um certo grau de afastamento entre a obra produzida e a sua fruição pelo povo. Cunhal situava-se numa total defesa da liberdade do artista, eu formulava secretas e envergonhadas reservas a essa posição, supostamente apoiado em dois argumentos: a de que a arte tem de ser também, embora não apenas, um fenómeno de comunicação conseguida, e a de que certos produtos artísticos podem ser veículos de propaganda contrária à libertação do povo, dos povos. Assim, ali estava eu a ser desmascarado perante mim próprio como um dogmático, um básico, em confronto com a coerência de princípios de um homem em relação ao qual se tecera a reputação caluniosa de ser ele um dogmático. Era a implícita prova da falsidade dessas versões. Era também a força da lucidez que impede as derivas para atalhos por onde a razão pode perder-se. Tanto quanto julguei aperceber-me, Álvaro Cunhal fazia ali a prova de que a fidelidade a princípios e convicções é um património a preservar em todas as circunstâncias e a propósito das mais diversas questões, mesmo as que não são directa e evidentemente políticas. E esta lição, ainda que dada apenas no decurso de uma amena conversa sobre arte e sociedade, não era lição pequena.



Nota do editor: Publico aqui este texto de Correia da Fonseca, dado à estampa na edição de hoje do Avante,  por duas razões fundamentais:  1- Trata-se de uma belíssima crónica sobre televisão; 2- Também porque fui um dos que, por via do zapping permamente com que fujo à droga televisiva reinante, pude revisitar a lucidez de um Artista e de um português maior.
Sobretudo, agora, que o país está polvilhado de Cavacos, Coelhos, Relvas, Pereiras e Rosalinos menores.
Moral e intelectualmente, menores.

Soares Novais 


Acácio de Carvalho é o autor do desenho de Álvaro Cunhal.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Façam como o Rosalino.



Soares Novais

O secretário Rosalino disse na Assembleia da República que os subsídios de férias e de Natal roubados aos funcionários públicos e pensionistas voltarão "a ser pagos logo que possível".
Está certo: os funcionários públicos, seguindo a máxima do secretário Rosalino, também podem e devem a partir de agora dizer aos seus credores:  "Pagaremos logo que possível".
Ou seja: quando o secretário Rosalino decretar o fim do roubo.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fora da lei.


Soares Novais

O inquilino temporário do palácio Cor de Rosa, a quem o soba da Madeira trata por "senhor Silva" e Ronaldo por "voçê", acaba de promulgar as alterações ao Código do Trabalho.
Diz ele, o inquilino temporário do palácio Cor de Rosa, não ter encontrado nenhuma inconstitucionalidade naquele que é o mais violento ataque aos direitos dos trabalhadores desde do 25 de Abril. Ao fazê-lo, o inquilino temporário do palácio Cor de Rosa, continua fora da lei.
Fora da lei, sim. Pois volta a desrespeitar o juramento  que fez de cumprir e fazer cumprir a Constituição.
Uma Constituição que, recordo, colheu, também, o voto favorável do seu PPD/PSD - partido/empregador do qual se serviu para se tornar primeiro-ministro. E, mais tarde, ocupar o palácio que já foi casa de Homens acima de qualquer suspeita ética, institucional e moral.



segunda-feira, 11 de junho de 2012

DOIS HOMENS.

É CLARO QUE SOUBE



É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube

Mas tanto me custou desPedir-me Mas tanto me impediu de te rever É claro que nem telefonei à Aida Pensei em redimir-me com uma carta sem pêsames Logo que a resPIRAção autorizasse os meus dedos a escreVer o teu nome É claro que continuas meu companheiro O da vida esperada O da morte inesperada Não te vou recorDar os tempos em que os sonhos eram ilegais e que tu e outros legalizaram Cumprindo o deVer das armas que raramente se usam para sonhar É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube Estou em Agosto e quero dizer àqueles que te apeLidaram de louco Que realmente bem vistas as coisas Só um louco é justo Só um louco é herói Só um louco é poeta E tu Companheiro Cometeste a louCura de aMar o teu Povo Num tempo em que outros Às claras e em segredo Se punham ao serViço do eu e do medo

Recordamos a tua gravata aos ventos da Ibéria Os teus gestos de um Novo Estio na hora de aproFunDar o sonho ou vogar à superfície Depois de Setembro Depois de Março Depois do Passado É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube É claro que exististe antes de nascer e que existirás depois de morrer Porque não és somente um nome a fixar na História mas um nome para transforMar a História Soubeste ser Português e ser Universal Soubeste ser General e ser Soldado Soubeste ser Engenheiro e ser Operário Assim Foste o Governante a quem chamámos Chamaremos Companheiro Porque tu foste propriedade e não proprietário de multidões Porque o teu sonho não foi anDar aos ombros das multidões Mas anDar com as multidões aos ombros Além disso Companheiro Foste um General com Biblioteca Por isso Poetas Escritores Pintores Cantores te dedicaram as elegias inaugurais

É claro que viveste e eu soube É claro que morreste e eu soube

Porque eu já sabia que eras o Vasco da Índia Que fora ignOrada em todas as partidas Eu sabia que declaraste ALMADA o Novo Promontório O das especiarias de cravos O das caraVelas sem escravos Foi então que os senhores de muitos séculos se ALVOroçaram com o Adamastor O Gonçalvismo Sim Senhor E claMARam por socorro aos restantes Senhores do Mundo Foi então que perceberam que se aproximava No meio de Camponeses e SolDados Artistas Professores Funcionários Operários e Marinheiros Cristãos e Ateus com fé no Homem A tempestade temida pelos Geógrafos desde o desenho dos primeiros mapas Temiam eles Ainda temem que o sol não inunde apenas as praias

E que à beira-mar irrompa um arco-íris

ProclAmando

Existe
Um Mês chAmado Abril

Existe
Um Homem chAmado Vasco (1)







ENTRE AS FLORES DE JUNHO


           
As tuas cinzas jazem num canteiro No último combate com a fatalIdade No derradeiro encontro das Quatro Estações Assim te semeaste nos Jardins da Terra Assim respondeste às bandeiras nos túmulos numa tarde de sol para todos nós Entre as flores de Junho
Álvaro
Saiu uma nuvem de adeus No crematório Entre as jacarandás Vestidas de roxo
Álvaro
Tu sabias que eras pó criaDor Tu sabias que eras breve mas jamais ausEnte
Álvaro
Não vale a pena dizer que não morreste Vale a pena dizer o que deve ser dito Que nos ensinaste a viVer e a morrer
Álvaro
Não repetirei os passos da tua vida Não recontarei os passos da tua morte Somente lembrarei que a História da Humanidade e a História de Portugal estiveram no teu cortejo e bem se vê que continuarão a precisar do teu nome Para escreVer o nome do Homem
Álvaro
Lámpara Marina em cada anoitecer Na melancolia recliNada nas janelas de Lisboa
Álvaro
Dir-te-ei Continuas presEnte no mundo Embora te tenhas ausentado em Junho
Álvaro
Nunca será em vão chOrar por ti Mas cantaremos todos os dias Até que amanhã seja já hoje (2)


1. Falecido em 11/06/2005.
2. Falecido em 13/06/2005.


César Príncipe, Correio Vermelho, Seara de Vento, 2008.
Álvaro Cunhal desenhado por Acácio de Carvalho.

domingo, 10 de junho de 2012

Um cravo vermelho para Maria e Matilde.




"Estive presa em Caxias, porque isto era tudo exagerado. Fomos 50 pessoas ao aeroporto esperar D. Maria Lamas, que vinha de um congresso da Paz. Parece que era um crime terrível. Assim que o avião parou, as pessoas que estavam à espera dela foram para Caxias. Havia lá mulheres completamente isoladas, mas sabíamos muito bem o que lhes faziam. É uma coisa horrível. Aquela gente não merecia o mais pequeno respeito. Aquilo marcou-me, porque entrei no sítio e vi as coisas como elas eram. Há coisas que passaram por mim, das quais já não me lembro. Mas há sempre memórias que ficam, como o 25 de Abril. O meu marido estava muito mal. Morreu no ano seguinte. Morávamos junto à Casa da Moeda. Eu só via o que se avistava da janela. Era uma coisa linda. Tive tanta pena de não poder ir para a rua. Nesse dia, fui comprar um cravo. Coloquei-o numa jarra junto ao meu marido. No final do dia estavam lá mais de 70 cravos. Tanta gente que lá passou. Ele dizia para o José Gomes Ferreira: «Eu vi, eu ainda vi.» 
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Soares Novais


Revisito este depoimento, recolhido pelo jornalista Valdemar Cruz e publicado numa edição da Revista Única do Expresso, creio que em 2003, para prestar a minha homenagem a Maria Keil.
Sei da exemplar amizade que a unia a Matilde Rosa Araújo (*) e imagino-as, agora, de novo juntas, a escrever e a ilustrar.
- Sim, meu querido amigo, aceito. Mas com uma condição: as ilustrações têm de ser as ilustrações da Maria - disse-me Matilde quando, após a edição de "Os Direitos da Criança", lhe propus a publicação de uma das suas obras em que teve como parceira Maria Keil. Uma reedição que por minha única culpa não avançou.
De Maria Keil sei o que sobre ela li e aquilo que dela me contou Matilde no final de uma tarde inesquecível na Feira do Livro de Lisboa, em 2008.
Matilde disse-me, então, que Maria era generosa e simples.
Tal como Matilde.
Um cravo vermelho para Maria e Matilde, pois.


*Matilde Rosa Araújo morreu no dia 6 de Julho de 2010.

A multidão que os jornais ignoraram.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Hoje é dia de luta.




manif20120609cartazporto_152.jpgObrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos
felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível
viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às
quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que
nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.


Joaquim Pessoa
(Poema de Agradecimento à Corja)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Roubá-lo à mesa.


Soares Novais

Hoje, contrariando as indicações do administrador-delegado da troika, fiz um manguito ao empobrecimento e fui almoçar a Matosinhos.
Almocei com gente amiga e numa pequeníssima tasca.
Uma tasca onde o único luxo é a qualidade do peixe que nos servem. Comi sardinhas, pequeninas e longe de pingar no pão,  pois disse a Fatinha "elas este ano andam muito secas".
Avisado da secura das raparigas, um dos comensais torceu o nariz às ditas e a Fatinha sugeriu "um robalo", que ele também recusou. Assim:
- Ó Fatinha agora já não há robalo só há roubá-lo...
O meu amigo optou por um carapau exemplarmente grelhado. Logo a seguir chegaram a salada mista e a salada de pimento, as batatas a murro e um "branco" do Alentejo.
Findo o repasto pediu-se a conta.
E ela, a conta,  foi feita  logo ali, num pequeníssimo pedaço de papel.
Um pedaço de papel tão pequeno, tão pequeno, que o ladrão jamais o verá...

Matar com Beretta não é pecado.

Tal vez pocas personas saben que la fábrica de armas Pietro Beretta (la mayor industria de armamentos en el mundo) es controlada por el Holding SpA Beretta y el accionista mayoritario de la Beretta Holding SpA, después de Gussalli Ugo Beretta, es el IOR (Instituto para las Obras de Religión).

[comúnmente conocido como Banco del Vaticano]).


El Banco del Vaticano es una institución privada, fundada en 1942 por El Papa Pío XII y con sede en la Ciudad del Vaticano.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A gastar já somos campeões.




Soares Novais

Pronto. O dr. Passos e o dr. Portas podem comemorar o primeiro ano de roubalheira tranquilamente. O povo já só pensa no "Europeu" e nos feitos anunciados por Ronaldo & companhia. Mesmo que os ensaios tenham sido aquilo que foram: uma merda. Sobretudo, frente à Turquia, no último sábado. Mas temos o melhor do mundo, ou o segundo melhor do mundo, e um seleccionador que a falar é tão galvanizador e conhecedor como o amigo do peito do dr. Relvas. Ou o próprio dr. Cavaco, que como se bem sabe é homem sábio. A selecção já esta na Polónia. Cantemos, pois. Saltemos, pois. Enfeitemos as nossas casas com a bandeira portuguesa, pois.  Sejamos orgulhosos dos nossos heróis, pois nos gastos, como se prova na imagem acima, já ninguém nos tira do 1º lugar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Narana sem pé-de-meia.


Soares Novais


Narana Coissoró, que foi vice-presidente da Assembleia da República, dirigente e deputado do CDS, colocou o seu apartamento no Monte do Estoril à venda. O anuncio é feito pelo próprio no Facebook, que aí esclarece querer 200 mil euros pelo T3.
"A crise bateu-me à porta", diz Narana Coissoró que viu as duas pensões que aufere, uma do Parlamento e outra como professor universitário, sofrerem grandes cortes:
"De cerca de sete mil euros/mês, passei a receber 3 mil e tal".
Vitima do roubo dos subsídios de férias e de Natal, como todos os outros funcionários públicos, o antigo dirigente do CDS não acredita que estes sejam repostos:
"Para mim são favas contadas".
Após anunciar tão drástica decisão, Narana Coissoró, que passará  a viver na sua "quintinha do Monte Sinai", nas Caldas da Rainha, deixa ainda outros desabafos:
"Como não estou ligado a nenhum lóbi, nem obediência secreta, nem a grandes interesses económicos, poucos estão dispostos a ouvir os meus comentários [nos Media]".
O antigo deputado, hoje com 80 anos, faz ainda questão de esclarecer:
"Dediquei-me à causa pública e não enveredei por caminhos paralelos menos claros que deram a muitos um bom pé-de-meia".
Pois.
Não comprou submarinos.
Não tinha acções do BPN  - e,  pelos vistos, não se relacionava com Oliveira e Costa, Dias Loureiro ou Duarte Lima.
Não foi nomeado para o Conselho Geral da EDP.
Não integra nenhum conselho de administração de nenhum banco.
Não lidera as privatizações anunciadas.
Resultado: agora terá de viver na província, pois só assim fará face às despesas.
É o que espera Cavaco quando deixar o palácio cor de rosa...

domingo, 3 de junho de 2012

Eis o Borges das privatizações.

. Não tem cargo de ministro, mas todos sabem que é a eminência parda do governo PSD-CDS. Trata-se do sr. António Borges, que dirige o processo de privatizações daquilo que resta de empresas públicas portuguesas. No seu curriculum consta uma passagem pelo FMI e pelo banco Goldman Sachs. No entanto, segundo o correspondente financeiro do Le Monde em Londres, Marc Roche, "o FMI livrou-se de António Borges porque ele não estava à altura do trabalho". E acrescenta em entrevista à Rádio Renascença : "e agora chego a Lisboa e descubro que está à frente do processo de privatização. Há perguntas que têm de ser feitas".
Marc Roche é autor do livro O banco: Como o Goldman Sachs dirige o mundo . A obra denuncia as relações estreitas entre a banca e o poder. O correspondente do Monde considera que António Borges, ex-quadro da Goldman Sachs e ex-director do FMI para a Europa, surge neste tabuleiro como um peixe pequeno, mas que levanta sérias reservas tendo em conta a tarefa que tem agora em mãos.


Nota do editor: Texto surripiado ao resistir.info.
Este rapaz é o mesmo que há dias disse ser urgentíssimo baixar os baixos salários em Portugal.
E é o mesmo rapaz que, segundo um diário de hoje, ganha mais de 200 MIL EUROS livres de impostos.

sábado, 2 de junho de 2012

Os ninguém, que custam menos que a bala que os mata

"A utopia está no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.
Para que serve a utopia?

Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Os Ninguém


As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguém com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguém a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.


Os ninguém: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguém: os nenhuns, os desprezados, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e refodidos.
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, mas dialetos.
Que não professam religiões, mas superstições.
Que não fazem arte, mas artesanato.

Que não praticam cultura, mas folclore
Que não são seres humanos, mas recursos humanos.
Que não têm cara, mas braços.
Que não têm nome, mas número.
Que não aparecem na história universal, mas nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguém, que custam menos que a bala que os mata.


Eduardo Galeano

(O livro dos abraços)

Vejam como ele é um sabichão.



Soares Novais


O secretário-geral da Associação de Hóteis e Restaurantes reuniu com o dr. Passos e revelou:
- O primeiro-ministro prometeu ir avaliar o impacto da subida do IVA na restauração.
Acho que o administrador-delegado da troika faz bem.
Sobretudo, agora que milhares de restaurantes já fecharam portas e os trabalhadores despedidos contribuem para o terrível número de portugueses desempregados.
O dr. Passos foi avisado, repetidamente avisado, antes de cometer tal crime.
Mas, como é um sabichão, arrogante e incauto como todos os sabichões, fez ouvidos de mercador.
Agora, promete ir avaliar a medida.
E  tal pode acontecer por uma simples razão: é que ele, o sabichão, finalmente percebeu que milhões de euros não entraram, em Abril, nos cofres das "finanças"...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Inúteis. Medíocres. Deprimentes.


Soares Novais

Todos os estudos e todas as previsões da dupla Gaspar & Álvaro acabam, invariavelmente, no caixote do lixo.
Hoje, por exemplo, o dr. Gaspar, colocado perante a quarta avaliação da "troika", lá admitiu que a taxa de desemprego atingirá os 15,5% em 2012 e os 16%, no próximo ano.
Também, hoje, dirigentes sindicais e dirigentes patronais foram unânimes nas criticas feitas a mais uma reunião da Concertação Social:
- Uma inutilidade!
Sobretudo, porque o dr. Álvaro, o alegado ministro da Economia, se apresentou na reunião sem uma medida concreta que fosse. Mais uma vez.

Isto é:

Com o dr. Passos ocupado a defender o amigo Relvas do seu ex-amigo supercarvalho, o dr. Portas calado como um rato,  o dr. Branco entretido a balear os militares, e o dr. Macedo apostado em mandar para a morgue o SNS, as conclusões a tirar só podem  ser estas:

Inúteis.
São o que são este Passos & companhia, pois, como fica provado pela quarta avaliação dos seus patrões da troika, as suas previsões e estudos acabam sempre no caixote do lixo
Medíocres.
São o que são este Passos & companhia, pois,  além de quererem  exportar pasteis de nata, não têm mais nenhuma ideia para o país.
Deprimentes
São o que são este Passos & companhia, pois, além de quererem que os pobres se tornem miseráveis, são incapazes de produzirem um discurso que se diferencie do relato indigente feito por um repórter da SIC Notícias da festa bacoca que, ontem,  assinalou o fim do estágio da selecção em Óbidos.

 Ou seja:

 - Este (des)governo já morreu, mesmo antes de assinalar um ano de vida.

O problema é que a morte deste (des)governo arrasta consigo milhares de vítimas:

- Os micro, pequenos e médios empresários;
- Os mais de UM MILHÃO E DUZENTOS MIL portugueses que estão desempregados e sem perspectiva de futuro para si e para as suas famílias.