sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Já agora privatize-se também a puta que os pariu.

 
 
 

"Privatize-se Manchu Picchu, privatize-se Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, privatize-se o Partenon, privatize-se o Nuno Gonçalves, privatize-se a catedral de Chartres, privatize-se o 'Descimento da Cruz' de António da Crestalcore, privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, privatize-se a cordilheira dos Andes, privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos".


José Saramago - Cadernos de Lanzarote, Diário III, p. 148













Nota do editor: Agora que se anunciam a privatizações das Águas de Portugal, Estaleiros de Viana do Castelo,  ANA,  RTP e TAP recupero este texto de José Saramago. O país e os portugueses vão ficar ainda mais pobres. Mas uma coisa é certa: os amigos dos boys vão ficar ainda mais ricos.




 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ascensão e queda do euro. Depois da Europa connosco.


'Ascensão e queda do euro'.


Dá-me o controlo da moeda de um país e não me importará quem faz as leis.

Mayer Amschel Rothschild, fundador da dinastia de banqueiros. [1]

Há duas maneiras de submeter e escravizar uma nação: uma é pela espada e outra é pela dívida. A dívida é uma arma contra os povos. Os juros são as munições.

John Adams, presidente dos USA. [2]





César Príncipe



Sabemos como se assina um livro. Também sabemos como se assassina. Na esfera das letras e das artes, das ciências e das técnicas há numerosas publicações para sustentação do sistema, algumas eventualmente válidas como construções estéticas e teóricas, outras como codificadoras de práticas, catalogáveis como artigos de fascinação e perpetuação da ideologia dominante. Activam e preenchem a agenda cultural. Os critérios de evidência obedecem aos cordelinhos do mercado, entidade nada abstracta, que mede o mérito mais pela eficácia da mensagem do que pelo rigor do conteúdo. Tais géneros de educação e diversão fazem parte do citacionário, da vulgata situacionista e rotativista, fundamentalista e rentista. Outras publicações, portadoras de espírito inovador e crítico, são postas fora do circuito de legitimação, das montras de novidades. Quando é difícil ou impossível rebater, mata-se o produto concorrente, escondendo-o da tão exaltada sociedade de consumo. Vem esta entrada a pretexto de uma obra, que não é de referência para os interesses instalados (económicos, financeiros, políticos, académicos, mediáticos), estando, à partida, condenada ao silêncio, mas que deve ser referida e recomendada como uma das antologias do pensamento especializado mais consistentes e problematizantes da actualidade editorial portuguesa. Título: Ascensão e queda do euro. [3] Autores: Rudo de Ruijter, Yannis Varoufakis, Costas Lapavitsas, James K. Galbraith, Gerard Duménil, Michael Hudson, Ed Dolan, Jacques Nikonoff, Jean-Claude Paye, Eugénio Rosa, Jorge Figueiredo, articulista e coordenador. O trabalho exclui o campo conservador, normalmente confusionista e justificacionista, mas integra abordagens diversas, ancoradas na concepção marxista da Produção, da Moeda, do Valor e das Classes Sociais e na visão desenvolvimentista do Estado. Não procederemos a um resumo dos fundamentos e das perspectivas de cada peça, já que não nos move redigir um tratado sobre outro tratado nem desejamos conter ou esgotar a curiosidade (científica e cívica) dos leitores. Ter à frente dos olhos centenas de desassombradas e assertivas páginas sobre a Grande Guerra Europeia da Moeda Única é iluminar a noite que tolda a Europa e cobre os USA e se espalha por outros firmamentos da globalização. Não perder tempo com produtos tóxicos (emitidos por escreventes e falantes do sistema) é tão imperioso e sensato como fugir das lixeiras subprime. As análises desta colectânea põem sobretudo o acento no diagnóstico. Etapa imprescindível da acção curativa e regenerativa. Eis algumas perguntas correntes que encontrarão, nesta ascensão e queda, resposta qualificada aos Senhores E Senhoras da Europa, isto é, ao Império Financeiro, que usurpa a soberania e se apodera da riqueza nações, dispondo de chiens trela para cumprir e fazer cumprir memorandos de entendimento:


Quod vadis, Europa?[4]
`
Como vai a auto-desregulação do Grande Capital?

Como vai a luta dos siameses euro e dólar?

Como vamos de Moeda a mais e Economia a menos?

Como vamos de petro-assaltos e guerras humanitárias?

Como prospera a escravidão da dívida?

Como se comportam os malandros do Sul?

Como reage o ex-Portugal do pelotão da frente?

Como vai a Europa connosco? 

Como planear a ascensão dos agiotas?

Como planear a queda de um país?

Como adiará a China a bancarrota ocidental?

Como impedir os Estados de socorrer os mercados?

Como se fez da Europa de 2012 a Argentina de 2001?

Como impedir os Estados de abandonar os cidadãos?

Como se iliba o Goldman Sachs em nome da lei?

Como julgar ladrões e burlões com guarda-costas?




Karl Marx
dá explicações

Pelo que lhe respeita, Karl Marx está a ser insistentemente chamado a explicar a crise aos velhos burgueses e aos novos proletários (já voltou à Sorbonne), porque, balanço feito e calendário depois de Cristo revisto, o séc. XXI, em termos de bem-estar social e independência nacional, começa a aproximar-se do mal-estar e dos mapas coloniais do séc. XIX. Como deter a impunidade da banca e dos monopólios associados e o confisco dos rendimentos do trabalho e dos pequenos empreendedores pela polícia de choque fiscal? Como cortar com o discurso fatalista dos gestores de alto coturno e políticos de turno? Claro se vai tornando: a troika interna só será detida nas ruas e a troika externa terá de ser detida nos aeroportos. Os troikanos ludibriam os votantes e escudam-se nos votos. A Constituição da República Portuguesa fornece as saídas e as soluções para esta emergência patriótica e este colapso civilizacional. As consensuais e as drásticas. Em conformidade com a legitimidade participativa, interventiva e repositiva. Quem não recorda ou lê regularmente a CRP tende a ficar capturado e formatado pela dialéctica do sequestrador. É da boa-fé e da solidez do Direito confrontar a retórica relativista, negacionista e capitulacionista com o texto magno da Revolução. Por sua vez, quem não se munir de recursos intelectuais de largo e variado alcance cairá no amolecimento ingénuo ou no colaboracionismo com ajudas de custo. Os quadrilheiros da economia e da finança manejam um cabaz de compras de elites e ostentam poderosas indústrias de aliciamento, manipulação e persuasão: editoras, televisões, rádios, diários e semanários. As vítimas possuem meios escassos e de circulação restrita. Nada que a História não conheça, embora raramente reconheça. Militantes dos direitos civis nos USA (década de 60) tinham razoável consciência das suas limitações face à secular máquina de repressão, alie(nação) e desorientação: A maior arma dos ricos é a cabeça dos pobres.

Vencer a desproporção
Convencer a maioria

Mas a luta anti-racial e anti-discriminatória deu frutos, após a desobediência em cadeia, a saga de clamores, as bandeiras de sangue, o pertinaz jornalismo boca a boca. Seremos poucos neste combate desigual? Certo é que a resistência social, sindical e política enche avenidas e praças com centenas de milhar de manifestantes. E quantos, exceptuando os subcontratados do espaço mediático e dos palcos da governação, ousam defender os pacotes de resgate e os responsáveis da crise, igualmente beneficiários das medidas anti-crise? O músculo contestatário supera em larga escala a base social dos governos, notoriamente desmobilizada e ressentida. Este superavit de dinâmica da lucidez face à estática reaccionária traduz um potencial de recrutamento ideológico e orgânico para engrossar as fileiras da dignidade nacional e rejeitar o cativeiro da dívida. Somos poucos? Não. Precisamos de ser mais. Precisamos de elevar a qualidade cívica e cultural das organizações e das massas. Não faltam registos (positivos e negativos) de profundas alterações de ordem colectiva e pessoal a partir de recursos primários. O cristianismo principiou com doze apóstolos. Os vietnamitas venceram os USA na proporção de um combatente para doze. Até o hipermercator Belmiro nasceu do nada e o Amorim holding nasceu a contar rolhas. E por aí adiante. A leitura de Ascensão e queda do euro, livro silenciado pela Imprensa generalista e económica, motivou esta reflexão em forma de manifesto. Outras conclusões e extrapolações se poderão e deverão tirar, página a página. É um manual de debate. Logo, de combate. O título introduz uma carga simbólica pesada. Depois do pesadelo militar germânico (ocupacionista, anexionista, esclavagista, liquidacionista), o fantasma prussiano-ariano volta a arrepiar a espinha dorsal da Europa, agora através da ocupação, anexação, escravidão da dívida. Ascensão e queda do euro ou do IV Reich? A queda do euro é visível (falta de confiança, instabilidade, desvalorização). Resta apurar se o euro, de queda em queda, evoluirá para a extinção (periférica ou geral). Pode-se comparar o euro a um veículo com 23 secções articuladas, nas quais todas as rodas são de dimensões diferentes. Não irá longe. É a previsão de Rudo de Ruijter. Outros apontam desfechos menos categóricos, porventura de agonia assistida e gradualizada. Igualmente dolorosa. A guarda da capoeira está entregue à raposa. Os ajustamentos continuarão a afectar os do costume: os mais desfavorecidos economicamente e indefesos politicamente. Pouco ou nada há a esperar do sistema senão austeridade sobre austeridade e indesejáveis heranças para as gerações perdidas. Contra a factura, a fractura. Naturalmente incumbe aos espoliados, enganados e humilhados desencadear e suportar o processo alternativo. É uma questão de princípio, mas irrenunciável, conforme nos ensinam e relembram as experiências da luta de classes. Que do lado popular sairá mais dotada e alentada ao ler e reler Ascensão e queda do euro. Cada livro que desvende os meandros e os desmandos do grande capital é um projéctil de Adams contra as munições de Rothschild.

Saber ler é preciso. A democracia agradece.





[1]. Sentença atribuída a Mayer Amschel Rothschild (El Mundo, Pablo Pardo, Washington, 17/06/2012).

[2]. John Adams (1735-1826), segundo presidente dos USA.

[3]. Ascensão e queda do euro, Chiado Editora, 2012, Lisboa, ISBN: 978-989-697-548-7.

[4]. Para onde vais, Senhor? Pergunta de Pedro a Jesus. Segundo textos apócrifos, Cristo desceu dos céus para repreender o líder cristão no momento em que este se evadia do cárcere: Já que abandonas o meu povo, vou a Roma para ser outra vez crucificado. Garantem as Escrituras não oficiais que Pedro, envergonhado e contrito, permaneceu, entre os seus, na capital do Império, enfrentando a justiça de Nero, que o terá mandado supliciar. De cabeça para baixo, por vontade do apóstolo, que considerou não merecer uma morte igual à do Divino Mestre. Mas os condutores de rebanhos dos Senhores e das Senhoras da Europa, a começar pelo Imperador Americano e pela Imperatriz Germânica, só serão julgados e pregados na cruz, até agora, reservada ao comum dos cidadãos e aos rebelados, se eclodir uma Revolta dos Escravos. Mas não há revoluções oferecidas. Têm de ser pacientemente, diligentemente, sabiamente preparadas.





NOTA DO EDITOR: Este texto de César Príncipe está no RESISTIR.INFO.
 Ascensão e queda do euro pode ser adquirido na Livraria Barata (Av. Roma, 11, Lisboa) ou encomendado on line à Bertrand , Wook , FNAC ou Chiado . A Bertrand, a Wook e a FNAC fazem desconto sobre o preço de capa (€14) mas cobram portes, a Chiado não cobra portes mas não faz desconto. .
O livro reune trabalhos de um conjunto de investigadores que expõem as causas reais da crise da moeda comum europeia e da própria UE. Esta obra é uma tentativa de relançar as discussões que realmente importam – ultrapassando a desinformação dos media, com os seus economistas vulgares formatados na ideologia neoliberal. Também pode ser adquirido directamente no RESISTIR.INFO.


  http://www.bertrand.pt/ficha/ascensao-e-queda-do-euro?id=12851656
                                                          ,
              http://www.wook.pt/product/printproduct/id/12851656"
         http://www.fnac.pt/Ascensao-e-Queda-do-Euro-Jorge-Figueiredo/a595085?PID=5&Mn=-1&Ra=-1&To=0&Nu=1&Fr=0"
  http://www.chiadoeditora.com/index.php?page=shop.product_details&category_id=0&flypage=flypage.tpl&product_id=634&option=com_virtuemart&Itemid=&vmcchk=1&Itemid=1"

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Manta rota com água.

Soares Novais

Os laranjinhas fazem hoje a sua festinha.
Protegidos pelos muros de um parque aquático e bem longe dos olhares da populaça.
Percebo a opção: o boy & amigos fartam-se de meter água e o país é cada vez mais uma imensa manta rota...


Os números são fodidos.

Soares Novais


Eis alguns dos títulos informativos das últimas horas:


"Desemprego bate recorde de 15%"

 

"População empregada é inferior em 179 mil pessoas à de 1998"

 

"PIB português encolheu 3,3% no segundo trimestre de 2012"



Os números são fodidos, pois tramam sempre a mentira.
Mesmo que esta, a mentira, saia de alguma ilustre boquinha governamental.

domingo, 12 de agosto de 2012

Sempre com um terço na mão.


"A maioria dos governantes portugueses  são católicos praticantes.

 Nunca assinam nada sem terem um terço na mão"


 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Terrorismo virtual.

Soares Novais

A decisão de apresentar aos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) uma factura virtual, daquilo que custariam, realmente,  os cuidados médicos, apenas pode ser classificada de TERRORISMO.
Uma filha da putice que só tem um objectivo: humilhar quem  através dos seus impostos, directos e indirectos, como aqueles que recheiam uma factura da luz, por exemplo, sustentam  os roubos públicos e privados de uns fora-da-lei que tiram aos pobres para dar aos ricos, que servem e sempre serviram.
Não admira: muitos destas e destes, que hoje se apresentam como governantes, são filhos e netos dilectos daqueles "heróis" que no Verão de 1975 colocaram o país à beira de uma guerra civil, que mandaram incendiar sedes partidárias e mataram à bomba gente indefesa.
Por mim, sempre que tiver de utilizar o SNS irei munido da declaração do IRS para esfregar nas trombas do serviçal que tiver a lata de apresentar-me a factura virtual do Macedo...

domingo, 5 de agosto de 2012

A Portugal.

Jorge de Sena (1919 – 1978)





A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. ƒÉs cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não


                                Jorge de Sena