segunda-feira, 30 de abril de 2012

1º de Maio



CANÇÃO DO COOPERARIADO



Coopera o opErário Esse imenso operaDor Sem ele não temos ópera nem opeRações sem dor Opera todas as máquinas É muito cooperativo Opera computaDores Supõe-se um executivo Funda cooperativas Busca coopeRação Coopera em cantigas Paga as letras da canção Pertence ao operariado muitas vezes sem saber Porque tanta coopeRação não dá bem para entender Pertence ao operariado muitas vezes sem querer Porque tanta coopeRação só dá para empobrecer Já foi herói proletário Termo meio bolCHEvique O tratamento moderno é telecomando-chip Diz-se profissional Técnico e funcionário Também recurso huMano Unidade de trabalho Mas afinal (ele) é um grande operacional Ele opera e coopera Sem ele ponto final Fica assente Meus Senhores O que é um operário Sem gravata e com gravata Morre a viver do salário Peça da engrenagem Produto da produção Faz o carro e faz a estrada Faz a mesa e faz a cama Coopera até na morte fabricando o seu caixão


 

 


 

Uns chamam-lhe ParafUso Outros GloBalização


 

 


 


 




 





Poema de César Príncipe, Correio Vermelho, 2008, Seara de Vento.




quinta-feira, 26 de abril de 2012

38 anos depois do 25 de Abril

Preservativo económico
aprisiona jornalistas

Soares Novais*

Hoje os censores não são coronéis. Não usam lápis vermelho ou lápis azul. Usam fatos caros, perfume de marca, palavras suaves e dão palmadinhas nas costas dos jornalistas, que são cada vez mais trabalhadores precários e mal pagos. 38 anos depois do 25 de Abril a censura e a autocensura é feita através de um apertado preservativo económico que impõe o PU (Pensamento Único).


 

“25/4/74 (00,25. Hora dos Capitães). Os jornais que ainda mandaram provas à CENSURA – quando tocaram à campainha – os “coronéis” tinham desertado dos seus postos. Horas antes tinham-se debruçado (preocupadamente) sobre a reunião dos bispos em Fátima, sobre uma bomba fictícia no BPA e sobre as 44 horas da semana dos caixeiros. Escaparam-lhes as reuniões e blindados da nova geração militar.”


 

Esclarece César Príncipe em “Os Segredos da Censura” – obra várias vezes reeditada e de leitura obrigatória para que se saiba que “a Censura/Exame Prévio foi uma organização policial criminosa encarregada de atirar a matar contra todas as construções sintácticas que se desviassem da gramática do regime, um regime de ricos metais e atrasados mentais», como aquele jornalista e escritor, sem dúvida um dos melhores de nós, afirma no prefácio à terceira edição da obra.

A Censura era o preservativo do regime fascista. Por isso os jornais estavam impedidos de parir notícias onde se referissem surtos de cólera, suicídios, barracas, aumento de preços, guerra,  drogas, gripes, fome, greves, fraudes e infedilidades conjugais. Racismo.

O  país tinha um Pai - que alguns ainda há bem pouco elegeram como o grande português - que não viajava, não adoecia, não sofria acidentes de viação; e alguns santuários, onde se zelava e zela para que o povo não saia dos caminhos das troikas.

Isto é: para os coronéis e os “doutores” censores o país real não existia. Mesmo que muitos dos seus cortes de lápis azul (a Norte) e de lápis vermelho (a Sul) nos façam hoje sorrir.

Eis dois exemplos retirados do já citado livro de César Príncipe:


 

“13/3/72 (22,50). “Espancou a mulher e bateu nos polícias – CORTAR o bateu nos polícias”. Ordenou o Coronel Garcia da Silva, um dos esclarecidos censores, que, como a aqui se vê, não ficou nada preocupado com o espancamento da senhora.


 

“2/12/72 (23,30). «Reunião de merceeiros em Gaia. Pode ser publicada notícia. Mas é CORTADA uma parte das afirmações de um interveniente: “Os supermercados são considerados de interesse público e nós seremos ladrões? É assunto para CORTAR”. Ordenou um tal dr. Ornelas que, espertalhaço, já então percebeu que o país não tardaria a ficar nas mãos dos hipermerceeiros como acontece hoje.


 O ópio das multidões


 A Informação que hoje nos servem é assim a modos como o novo ópio. E é, também, em boa medida, uma Informação censurada e autocensurada. Pelos interesses políticos de quem manda e pelos interesses económicos que serve.

 

(Isto apesar de um assessor de longa data do professor Cavaco ter lamentado, ainda recentemente, que “uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar”).


 O autor deste lamento, que fez vida nos jornais e chegou à Direcção do Diário de Notícias e que com o seu punho assinou editoriais do matutino lisboeta, é caso exemplar da dependência económica e política da Imprensa portuguesa actual e dos servidores atentos e reverenciais que a dirigem.

Eduardo Galeano, escritor, jornalista e humanista uruguaio, diz que o Mundo é hoje dominado por uma “ordem criminosa”.

Uma ordem criminosa cujas “corporações controlando os governos de quase todo o planeta, dispondo também de instituições como o FMI, a OMC e o Banco Mundial para defender os seus interesses” leva a que hoje “500 empresas detenham mais de 50% do PIB Mundial, sendo que muitas delas pertencem a um mesmo grupo”.

Uma ordem criminosa, que se apoderou da Imprensa mundial e a coloca aos serviços das suas estratégias ideológicas, económicas e financeiras.

Assim, acontece com a generalidade da chamada Comunicação Social, também ela na mão de endinheirados, ou endividados, que embora muitas vezes sejam apenas meros testas-de-ferro, são zelosos cumpridores das ordens dos verdadeiros patrões.


 E isso explica várias coisas. Como estas que aqui se deixam:


 - O despedimento cirúrgico de jornalistas seniores, respeitados entre a classe e com capacidade interventiva e reinvidicativa;


- A opção por jovens jornalistas pagos com baixos salários ou pagos à peça, sem capacidade interventiva e reinvidicativa. Sem memória também;


 - O pagamento milionário a algumas “damas” e a alguns “cavalheiros” para que assistam à missa dominical do prof. Marcelo ou à novena do dr. Marques Mendes, à quinta-feira;


 (Nota: Isto enquanto o desemprego de jornalistas se agrava, sendo que, segundo o Sindicato dos Jornalistas, nos últimos cinco anos (2007-2011), deram entrada na Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas (CPAFJ) 566 novos pedidos de subsídio de desemprego, num total de 694 processos. Mais: os OCS são dominados por dois/três grupos económicos – Controlinveste/Impresa/Cofina/Impala, na chamada imprensa cor de rosa, pelo que jornalista caído em desgraça jamais, como dizia o outro, voltará ao exercício da profissão.)

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- Ou, também, para que os “Prós” sempre derrotem os “Contras” que se manifestam contra o PU (Pensamento Único) que domina o mundo, o país, e teima em dominar as nossas vidas.

A Imprensa, escrita, televisiva, radiofónica e muito daquela que hoje por aí vagueia impõe a Censura, pois promove a autocensura.

E manipula inocências e consciências!

Vendendo a imagem de “vamps” e  de “vips”, das suas festas e carros; servindo-nos um qualquer Fiúza a dizer que, por integrar uma associação de cristãos de Barcelos e caso o Gil Vicente ganhasse a Taça da Liga, iria dar espumante aos sem-abrigo de uma terra esventrada pelo desemprego; dando tempo de antena e páginas inteiras a uma qualquer irmã do Cristiano Ronaldo; ou a qualquer similar indigente mental.

E se esqueçam, por exemplo, de assinalar os 20 anos da morte de Salgueiro Maia – logo a ele que tudo nos deu e nada quis em troca:

 

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Como tão bem anunciou Sofia de Melo Breyner.

 E se esqueçam, também. dos 100 anos do nascimento de Alves Redol e Manuel da Fonseca ou dos 103 de Soeiro Pereira Gomes,  símbolos maiores do neo-realismo.

Ou que nada digam sobre o facto de Américo Amorim entupir as contas fiscais da sua holding com pensos higiénicos e destaquem em letras garrafais que “60 mil recebem rendimento mínimo e não mexem palha”, como ainda há dias titulava (esquecendo os rendimentos máximos de quem nada faz) um matutino que já se preocupou com os mais desfavorecidos.

 

Imprensa alternativa

- Imprensa contra poder

 

Num mundo dominado pela ordem criminosa de que nos fala Galeano, fazer uma Imprensa séria, alternativa, uma Imprensa de contra poder. E não de quarto poder, como alguns defendiam e que, prova-o a história e os factos, acabou no quarto do poder. Poder que dela se serve a seu bel-prazer.

Ou seja: precisamos de um jornalismo de contra poder, que mude o mundo e nos faça reflectir, que nos dê uma outra visão e contrarie o PU que nos domina.

Sobretudo na Europa, nesta Europa dominada por mercados e mercadores que a encaminham para o maior retrocesso civilizacional de que há memória.

A Internet é, pelo menos por agora, um suporte alternativo, bem como a Informação que nos chega da América Latina.

Nomeadamente com o nascimento da Telesur – rede de televisão criada em 2005 na Venezuela como contraponto à hegemonia das grandes redes privadas de TV, tais como a CNN e a Univisón.

Ou ainda através da leitura do periódico Le Monde Diplomatique, que o jornalista e sociólogo galego Ignacio Ramonet dirige desde 1991;

Ou, também, e entre nós pela leitura dos sítios:

 

- cinco dias;

- o diario.info;

- resistir.info.

 

Por exemplo.

 

Pois só assim ficaremos a saber a razão que levou o farmacêutico Dimitris  Christoulas a suicidar-se, com um tiro, junto ao parlamento grego.

 

Eis a carta do herói da Praça Syntagma:


 “O governo de ocupação aniquilou-me literalmente qualquer possibilidade de sobrevivência dado que o meu rendimento era inteiramente proveniente de uma pensão que eu, sem qualquer apoio de ninguém nem do Estado, financiei durante 35 anos.
Porque a minha idade me impede de assumir uma acção radical (se não fosse isso, se um cidadão decidisse lutar com uma Kalashnikov, eu seria o primeiro a segui-lo), não me resta nenhuma solução excepto colocar um fim decente à minha vida antes de ser forçado a procurar comida nos caixotes do lixo e de ser um peso para os meus filhos.
Eu acredito que a juventude sem futuro brevemente se erguerá [literalmente: “empunhará armas”] e enforcará todos os traidores nacionais de cabeça para baixo, como os Italianos fizeram a Mussolini em 1945

[Piazzale Loreto, Milão]”.

*Intervenção realizada no Centro Republicano e Democrática de Fânzeres (Gondomar) nas comemorações do 38º aniversário do 25 de Abril

 

 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de ABRIL

25 de quê?
25 da Liberdade
25 da Rebelião
25 de Abril que é sinónimo de Libertação


Martim Soares Novais



Nota do editor:
O autor do texto tem 10 anos e deu-mo à saída da Escola, no dia 24.
Foi-me entregue acompanhado por um cravo vermelho,  que meu filho também desenhou sobre um pequeno e singelo papel  branco.
Tão pequeno e singelo como o pequeno pau de espeto em que ele o colocou sob forma de bandeira.
Ele sabe que devemos a Salgueiro Maia e a seus generosos companheiros a Liberdade.
Ele sabe que devemos à luta dos que foram detidos, torturados e mortos nas prisões fascistas "o dia inicial inteiro e limpo".
Ele sabe que hoje muitos milhares de homens e mulheres, tal como seu pai e sua mãe, continuam a lutar para que o seu futuro, e o de todos os outros meninos e meninas, seja  liberto das amarras e ameias que os saudosos do 24 de Abril lhes querem impôr.




quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cuidado

Um regressou de Moçambique e o outro, "o mais político", segundo a propaganda, vai falar na televisão.
Cuidado, pois quando eles abrem a boca já se sabe: ou sai asneira ou mais maldade.
Soares Novais

sábado, 7 de abril de 2012

MORRER DE PÉ NA PRAÇA SYNTAGMA

Quando se ouviu um tiro na Praça Syntagma,
logo houve quem dissesse: “É a polícia que ataca!”.
Mas não, Dimitris Christoulas trazia consigo a arma,
a carta de despedida, a dor sem nome, a bravura,
e vinha só, sem medo, ele que já vivera os tempos
de silêncio e chumbo do terror dos coronéis.
Mas nessa altura era jovem e tinha esperança.
Agora tudo isso findara, mas não a dignidade,
que essa, por não ter preço, não se rende nem desiste.

Dimitris Christoulas podia ser apenas um pai cansado,
um avô sem alento para sorrir, um irmão mais velho,
um vizinho tão cansado de sofrer. Mas era muito mais
do que isso. Era a personagem que faltava
a esta tragédia grega que nem Sófocles ou Édipo
se lembraram de escrever, por ser muito mais próxima
da vida do que da imaginação de quem efabula.
Ouviu-se o tiro, seco e certeiro, e tudo terminou ali
para começar logo no instante seguinte sob a forma
de revolta que não encontra nas bocas
as palavras certas para conquistar a rua.
Quando assim acontece, o silêncio derruba muralhas.
Aos jovens, que podiam ser seus filhos e netos,
o mártir da Praça Syntagma pediu apenas
para não se renderem, para não se limitarem
a ser unidades estatísticas na humilhação de uma
pátria. Não lhes pediu para imitarem o seu gesto,
mas sim que evitassem a sua trágica repetição.
E eles ouviram-no e choraram por ele, e com ele,
sabendo-o já a salvo da humilhação
de deambular pelas lixeiras para não morrer de fome.

Até os deuses, na sua olímpica distância,
se perfilaram de assombro ante a coragem deste gesto.
Até os deuses sentiram desprezo, maior do que é
costume, pela ignomínia de quem se vende
para tornar ainda maior a riqueza de quem manda.
A Dimitris bastou um só disparo, limpo e breve,
para resumir a fogo toda a razão que lhe ia na alma.
Estava livre. Tornara-se herói de tragédia
enquanto a Primavera namorava a bela Atenas,
deusa tantas vezes idolatrada e venerada.
Assim se despedia um homem de bem,
com a coragem moral de quem o destino não vence.

Quando o tiro ecoou na praça de todas as revoltas,
Dimitris Christoulas deixou voar uma pomba,
uma borboleta, uma gaivota triste do Pireu
e disse, com um aceno: “Eu continuo aqui,
de pé firme, porque nada tem a força de um homem
quando chega a hora de mostrar que tem razão”.
Depois vieram nuvens, flores e lágrimas,
súplicas, gritos e preces, e o mártir da Syntagma,
tão terreno e finito como qualquer homem com fome,
ergueu-se nos ares e abraçou a multidão com ternura.

José Jorge Letria

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Batam palmas ao ladrão

Agora, que o ladrão confirmou o roubo até 2015,  aconselha-se funcionários públicos, reformados e pensionistas a sorrir-lhe e a bater-lhe palmas sempre que se cruzarem com ele.
Ser roubado por este Robinzito à moda de Massamá,  que assalta a imensa maioria de pobres para tornar ainda mais rica a imensa minoria de ricos, é um privilégio que não está ao alcance de um qualquer  Amorim, Belmiro, Espirito Santo, Melo e afins.
Soares Novais