As
O que
tudo isto
tem em comum
é em primeiro
lugar a completa
promiscuidade com
o poder político .
Os Espírito Santo
frequentavam os gabinetes de Sócrates,
elogiaram-no até ao dia
em que
o derrubaram, quando os seus interesses
estavam em causa
pela ameaça
de bancarrota . O dinheiro
fluiu nos contratos
swap, usados e abusados pela governação socialista ,
e as PPPs contaram com considerável entusiasmo
da banca nacional
e internacional . Compreende-se porquê , quando mais tarde se veio a saber detalhes dos contratos
leoninos que
deixavam milhões e milhões
para pagamento num futuro que já era muito próximo .
O actual governo
mereceu também da banca
todos os elogios
e retribuiu em espécie ,
impedindo que qualquer
legislação que
diminuísse os lucros da banca passasse no parlamento ,
ou ficando como
penhor de bancos
que em
condições normais
iriam à falência , mesmo
numa altura em
que já
era difícil
alegar crise
sistémica. O governo actual manteve
todas as práticas de co-governação com a banca e
as instituições financeiras
que já
vinham do governo anterior ,
consolidando um efeito
perverso , que
não é apenas
nacional , de permitir
que os principais
responsáveis pela
crise dos últimos
anos tivessem sido seus
beneficiários principais .
As privatizações reforçaram esta promiscuidade , favorecendo uma captura
do estado pelos
interesses financeiros sem comparação com
o passado . No passado ,
havia interesses industriais ,
agrícolas , manufactureiros, comerciais que
partilhavam com a banca
essa proximidade com
o estado , o governo
e os partidos do “arco
da governação”. Agora , mesmo sectores em
que as operações
financeiras são
relevantes , como
a distribuição , não
tem nem de perto
nem de longe
a promiscuidade com
o poder político
que tem a banca
e por isso
podem com maior
liberdade falar
criticamente.
E é crime
sem castigo ,
ou com
leve castigo ,
porque não
se percebe como banqueiros
envolvidos em evasão
fiscal e manipulação
de contas (para
usar o politicamente correto ,
porque se não
fosse assim seriam falsificações
de contas , contabilidades
paralelas , “esquecimentos ”
de declarar ao fisco
milhões de euros ,
uso quotidiano de off-shores para esconder operações financeiras ,
etc., etc.) não são
imediatamente impedidos de exercerem
actividades na banca , acto que depende dos reguladores ,
mesmo antes
da justiça se pronunciar
sobre os eventuais
crimes cometidos, se é que vai alguma vez
pronunciar-se.
A completa
desresponsabilização sobre a crise dos últimos
anos , desencadeada pelo
sistema financeiro ,
mas de que
no fim este
veio a beneficiar ,
marca moralmente
como uma doença
a sociedade da crise
em que
vivemos. O que choca
as pessoas comuns
e é uma fonte enorme
de descrença da democracia
e de sentimento de injustiça
propício a todos
os populismos , é que
ninguém imagina que
um ministro ,
primeiro-ministro ou
Presidente se fosse sentar
à mesa com
alguém que
tivesse desviado uns poucos milhares dos seus
impostos ou
tivesse um restaurante ,
uma barbearia , ou
uma oficina de automóveis
em modo
de “economia paralela ”,
enquanto todos
os viram nos últimos
anos , em
plena crise ,
conviver agradecidos e obrigados com estes homens que aparecem agora
nos jornais
como se tendo “esquecido” de declarar milhões de euros ao fisco ou estando à frente
de instituições bancárias que emprestaram a amigos
e familiares muitos
milhões de que
não se sabe o rastro ,
e tinham contabilidades paralelas .
É por
isto tudo
que não
aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e
da classe média , por terem vivido
“acima das suas
posses ”, mesmo
quando não
o fizeram. E mesmo quando
havia uma casa a mais ,
um carro
a mais , um
ecrã plano a mais ,
um sofá
a mais , um
vestido ou
um fato
a mais , umas férias
a mais , uma viagem
a mais , recuso-me a colocar
estes “excessos ”
no mesmo plano
moral dos “outros ”.
Algum moralismo
salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos
e dos de cima com
os pequenos vícios
dos de baixo e do meio ,
tem como objectivo legitimar
sempre a penalização punitiva de milhões
para desculpar as dezenas . É por isto que esta crise corrompe a sociedade
e vai deixar muitas marcas ,
mesmo quando
ninguém se lembre de Portas e de Passos .
José Pacheco Pereira – Público - 21/06/2014
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