sábado, 6 de dezembro de 2014


Pai, escrevo-te para dar uma notícia: o teu neto é o pajem de "SANTA MARIA DO PORTO - O tempo e a memória".  O espectáculo que assinala os 900 anos da restauração da Diocese do Porto e da Construção do Cabido Portucalense e que sobe à cena na próxima segunda-feira (21,30 horas) na Sé Catedral.

Como tu sabes, o Martim gosta de escrever e gosta de desenhar. E gosta deste seu papel de pajem, que lhe foi outorgado pelo encenador Júlio Cardoso. (O Júlio da Seiva Trupe, Teatro Vivo, que resiste à morte decretada pelo parvoalho que ocupou a presidência da Câmara do Porto).
Pai: o teu neto ensaia diariamente há duas semanas e durante  horas a fio. Fá-lo entusiasticamente e sob o olhar terno e protector da actriz Cidália Santos, que aqui fica nomeada sua madrinha nesta sua estreia teatral e que é uma das mais belas pessoas que eu e a mãe do Martim conhecemos.
Por via da sua participação em  "Santa Maria do Porto" o teu neto reencontra-se contigo. Com a tua história e com as estórias de vida de um homem bom, que ali viveu na rua de Dom Hugo, paredes-meias com a catedral.
Lembro-me bem, Pai: a tua casa ficava mesmo em frente à de Maria Isabel Guerra Junqueiro, a filha do Poeta, que ali fixou residência e que ali instalou a Casa-Museu que perpetua a memória e a obra do escritor panfletário, que contribuiu significativamente para a implantação da República. (Também me lembro bem da Senhora, do seu porte nobre e do sorriso que o seu rosto estampava. Passeávamos por ali muitas vezes. Ficávamos por ali larguíssimo tempo, olhando a outra margem, sobretudo aos domingos de manhã e só depois regressávamos à nossa casa na Rua de José Falcão para o almoço dominical.)
E tu, Pai, aproveitavas esses passeios de domingo, para contar-me estórias de vida. Da tua vida.
História e estórias que, em grande parte, já partilhei com o teu neto.
E ele gosta de História e de estórias!
Tanto que já sabe de cor e salteado as 13 páginas A4 que nos contam e eleição do bispo Dom Hugo, entre 1112 e 1114, e a consequente restauração da Diocese do Porto e da construção do Cabido Portucalense.  (Uma  história escrita pelo Prof. Doutor Luís Carlos Amaral  e interpretada por António Reis, Cidália Santos, Fernando Soares, Roberto Merino e todos os outros actores e cantores e que tem a Direcção Musical de António Ferreira dos Santos e a direcção de Guarda-Roupa de Manuela Bronze.)
Pai, sei que vais ficar feliz com esta notícia.
Como vês a história, a tua e a minha história, não se queda por aqui.
O teu neto irá contá-la ao seu filho. Aos seus filhos.
Abraço-te com saudade.


A tempo: O Martim também já sabe que foi às tuas cavalitas que vi a multidão encher a Praça de Carlos Alberto para saudar Humberto Delgado, o General Sem Medo. Foi em 1958. A Liberdade, pela qual tanto ansiavas, só chegou 16 anos depois.

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