sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


Fernando Tordo

"Amigos.
Tive a intenção de informar, e agradeço as centenas de comentários que foram feitos por vós, mesmo aqueles que de forma mais ou menos dura se referem a esta minha saída do nosso País. Quase todos saberão que tenho mulher, filhos, netos, amigos e uma obra vasta na Música da nossa terra. Não seria para mim minimamente sensato abandonar tudo, pessoas e trabalho, 65 anos de vida e 50 de profissão. É verdade que tenho a hipótese de ir continuar o meu trabalho e a minha vida fora de Portugal, mas isso não significa nenhum abandono; apenas as condições já de si precárias em que a minha actividade se desenrola em Portugal pioraram tanto que não deixam outra alternativa, neste momento. Sinto-me bem, a minha actividade, felizmente, permite encarar a possibilidade de "não ter idade", de isso não ter especial relevância, ao contrário da esmagadora maioria, que com a minha idade chegou à reforma. E creio que ninguém me poderá levar a mal que eu continue a exercer a minha profissão, em boa forma mental e física.
Pertenço a uma geração que viveu momentos e acontecimentos à escala nacional e internacional do maior relevo, e colaborou intensamente, o melhor que lhe foi possível, em transformações no nosso País que acreditámos e lutámos para que fossem irreversíveis. O que se conseguiu e não conseguiu é do conhecimento de todos. No plano cultural, o nosso País vive um dos seus tempos mais sombrios, e chega a ser insultuoso aquilo que o orçamento de Estado de um País com séculos de História dispensa para a Cultura. Uma libra investida na Cultura gera sete libras em Inglaterra? Para os nossos "responsáveis" isso são ilusões, a Cultura só serve para dar prejuízo, e é um sacrifício que o povo tem que pagar para satisfazer meia dúzia de malandros!
Sou português, amo a minha terra, e quem alguma vez tenha ouvido alguma coisa do que faço há meio século na Música, facilmente constatará que esse facto está, até transbordar, em tudo o que faço. A Comunicação Social tem dado um relevo muito grande à minha decisão, eventualmente criando uma ideia negativa relacionada com a minha atitude.
O que vou fazer nada tem a ver com isso; vou tratar de conseguir uma maior aproximação entre artistas e artes de dois países que têm um relacionamento desigual partilhando a mesma Língua. E se a nossa Pátria é a Língua Portuguesa, que ao menos se possa tentar que essa aproximação seja um factor de entendimento que claramente as duas partes procuram e não encontram. Tenho responsabilidades com o meu País que me farão regressar todas as vezes que forem necessárias, e algumas já estão marcadas há muito tempo e serão cumpridas, bem como outros compromissos meus com o público que me acompanha há décadas; a saída no final deste ano do livro escrito pelo João Paulo Guerra sobre estes 50 anos de actividade profissional, a saída, finalmente, de música que tenho gravado ao longo de anos e que nunca foi editada; e até para 2015 alguns concertos de comemoração dos meus 50 anos de carreira.
No Brasil, continuarei a minha tarefa de compositor, autor e intérprete, farei outros contactos, conhecerei outras pessoas, mas serei o mesmo alfacinha nascido na Rua Feio Terenas, em Março de 1948, sempre pronto para ir e voltar, como aliás tenho feito toda a minha vida."



Fernando Tordo
na sua página no facebook e a propósito da sua anunciada ida para o Brasil. Farto que está de viver num País que " vive um dos seus tempos mais sombrios" . De um país nas mãos de capatazes ignorantes e que fazem terrorismo social de "chave na mão" .

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