terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Os bons ofícios de Agostinho.

Soares Novais 





1 – O deputado Agostinho Lopes deixou de exercer as suas funções no primeiro dia deste ano de 2013. Fá-lo aos 68 anos e depois de várias legislaturas como parlamentar eleito por Braga.
A região minhota perde uma voz fundamental na defesa da sua identidade e dos seus interesses. Sobretudo, os pequenos e médios agricultores; os produtores de leite; os micro, pequenos e médios empresários; os pescadores; e os trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo, por exemplo.
Licenciado em engenharia químico-industrial, Agostinho Lopes integrou várias comissões parlamentares, nomeadamente a Comissão de Economia. Consultei, agora, o sítio da Assembleia da República e confirmei aquilo que já sabia: foi sempre um deputado presente e dos poucos que manteve um contacto permanente com as populações que representava. Mesmo com aqueles que, embora beneficiando do seu saber e dos seus bons serviços, quase sempre optam por eleger os que só os conhecem durante a “caça ao voto”.
Uma coisa é certa: Agostinho Lopes, que agora sai da vida parlamentar e que seguramente não integrará nenhum conselho de administração de uma grande empresa nem será convidado para emparceirar com o Dr. Catroga na EDP, vai continuar a trabalhar na defesa dos interesses daqueles que são vitimados pela economia de casino, que tomou conta do país e do mundo e que tantas vidas destrói.


2 – Os deputados da “maioria” inviabilizaram o aumento do salário mínimo. E há mais de 500 mil portugueses que  auferem apenas 485 euros a cada 30 dias.
Uma senhora deputada do PSD, cujo nome não retive nem quero, embora reconhecendo que se trata de um salário de miséria, tentou justificar o chumbo de tão justa pretensão usando a cassete do costume: a situação financeira do país não o permite.
A senhora deputada “laranja”, cujo nome não retive e que para o caso não tem nenhuma importância, pois qualquer outro poderia reproduzir a mesma lengalenga, tem toda a razão: o dinheiro é todo preciso para pagar aos assessores ministeriais, às secretárias e aos motoristas, aos seguranças e as contas de telemóvel de toda esta gentinha a quem a austeridade não belisca, nem ao de leve.
E, meus amigos, aposto singelo contra dobrado, em como as contas mensais de telemóvel de muitas dessas girls e desses boys são muito, muito mais do que um salário mínimo.
Aliás, basta estar atento àquilo que acaba de ser tornado público pelo Tribunal de Contas para se confirmar que a austeridade é só para os soldados rasos do imaginário exército que o Pedro anda a reclamar para render os piegas.

3 – O Dr. Gaspar decidiu que o Estado, ou seja todos nós, vai capitalizar o Banif em mais de mil milhões de euros. E argumenta o número 2 da tropa fandanga de Passos, que tal ninharia, assim a modos que o salário mínimo nacional, servirá para financiar pequenas, médias e micro empresas, apoiar projecto familiares e projectos culturais. Em suma: dinamizar a economia.
Vítor Gaspar deita mão à mesma cassete de Teixeira dos Santos e toca a mesma música que serviu para justificar a nacionalização dos prejuízos do BPN, que como se sabe está a custar-nos os olhos da cara.
Prudentemente, o actual ministro das “Finanças” não diz que o Banif vai ser nacionalizado. Mas isso também não interessa nada. O certo é que o banco do comendador Roque entrou em colapso e nós, os do costume, cá estamos para o salvar.
Fica, assim, claro; os bancos são as únicas empresas que não podem falir. As outras sim, mesmo que o seu número não pare de aumentar e haja mais de um milhão de portugueses sem trabalho.

4 - Tive o privilégio de conhecer e privar com Marques Júnior - o Capitão de Abril, que acaba nos deixar e a quem aqui deixo este meu cravo vermelho.
A última vez que estive com ele pessoalmente foi nas comemorações dos 30 anos do 25 de Abril que tiveram como palco a sede da editora, que eu então dirigia.
A conversa com Marques Júnior, que foi eleito deputado pela primeira vez pelo distrito de Viana do Castelo, prolongou-se por várias horas. Primeiro, durante a sessão; depois, à volta da mesa o que o obrigou a partir rumo a Chaves, onde pernoitaria, já a noite ía alta.
Marques Júnior era um militar com biblioteca. E por o ser não era um arrivista, um parvenu, como tão bem nos elucida Alexandre O'Neill em "Uma Coisa em Forma de Assim".
Nem sempre estivemos de acordo.
Mas uma coisa é certa: o seu número de telemóvel vai continuar a vigorar na minha lista.
É assim que faço com os amigos.
Com os meus amigos que teimam em deixar-me cada vez mais só.



 

Crónica publicada no dia 9 no semanário

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