terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Presos em casa.

Soares Novais


1 – Hoje não trarei à crónica nenhum adjectivo para classificar a tropa fandanga. Vou apenas falar da vida. Da vida das pessoas, que é aquela que realmente interessa.
E essa, a vida das pessoas, está cada vez mais difícil.
Agora, anunciam a colocação de mais portagens. Sobretudo, no Alto Minho, que é cada vez mais uma região à beira do abismo. Do abismo social e empresarial.
As empresas encerram; as pessoas são atiradas para o desemprego; o fluxo turístico cai a pique; as crianças rumam às escolas com fome; os velhos são deixados nos  hospitais; os mais jovens e capazes emigram; a região, o país e os seus habitantes atolam-se no lamaçal a que a tropa fandanga os condena.

2 – Autarcas e empresários do Alto Minho clamam contra a colocação de mais portagens. Asseveram que a região, as empresas e as pessoas não resistirão a mais esta maldade. Apresentam números e esgrimem argumentos.
Apelam ao doutor Cavaco, mesmo que saibam que a maioria dos apelos a ele dirigidos têm como destino o cesto dos papeis.
Prometem sair à rua.
Dizem-se dispostos a juntar as suas vozes às vozes daqueles que há muito alertam para o poço sem fundo em que caímos por obra e graça da tropa fandanga.
De uma tropa fandanga para quem a vida se resume a cursos recheados de créditos, fatos “modalfa” e joguinhos de alcofa e influência.


3 – Entre Novembro e Dezembro de 2012 fiquei privado do afecto de alguns dos meus mais caros amigos. Um deles, que vivia de uma pequeníssima reforma após 30 anos de trabalho, evitava sair de casa. Por mais que eu insistisse. Por por mais que eu me dispobinilizasse para o ir buscar e levar. Um dia, perante mais uma insistência minha, disse-me:

- Olha, estou proibido de sair de casa. A minha reforma e os impostos que pago não me deixam. Basta comprar um jornal e beber um café e dou logo cabo do orçamento!...

É o que acontece hoje com a maioria de nós: estamos impedidos de sair de casa. Os salários são baixos e os impostos são os mais altos da Europa.  Insistem em fazer de nós os servos que trabalham para pagar os juros de uma dívida que não contraímos.
Estamos presos em casa!
E, assim, a Economia não funciona.
Os galegos não fazem compras em Valença; não se deliciam com o sarrabulho de Ponte de Lima ou com as sardinhas de Vila Praia de Âncora; e nós, os do lado de cá do Rio Minho, já nem temos dinheiro para ir a Tui comprar caramelos.
Resultado: as empresas fecham portas, o desemprego aumenta, e as cantinas sociais ficam lotadas de novos pobres.

4 – Mas as maldades que se anunciam não se ficam pela colocação de mais portagens. Outras há. Como o fim do IVA intermédio. Ou seja: querem passar o IVA dos livros dos seis para os 13%, bem como aquele que é pago pelo usufruto dos bens culturais, que são produtos de primeira necessidade.
Assim, voltaremos a ser o país de Fátima, do fado e do futebol, agora mais modernaço com as boçais figurinhas da Casa dos Segredos.
Estamos perante o maior e mais criminoso retrocesso civilizacional de que há memória. Temos de o impedir. Abrindo os olhos e excluindo das nossas escolhas aqueles que há muito mentem e, apenas, tratam da sua vidinha...
Antes que seja tarde. Tarde demais.


Nota final: O maestro responsável pela programação da  área da Música, da Capital Europeia da Cultura, Guimarães-2012, será o mandatário para Juventude da candidatura do dr. Menezes à Câmara do Porto. Tal apoio, que eventualmente lhe poderá garantir uma futura reforma longe dos 500 euros mensais com que são brindados alguns dos mais notáveis artistas e criadores portugueses, está longe de o enobrecer. E provam que, apesar do seu ar modernaço, ele, o maestro, gosta dos acordes sussurrados pela cassete de um dos mais velhos e manhosos profissionais da política da treta.





Crónica publicada
no dia 23 de Janeiro no semanário


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