Sou acossado por uma matilha de cães raivosos.
Eu e todos aqueles que não têm pai rico e estão impedidos de “ir ao BES.”
Ao BES e a todos os outros, pois, como muito bem se sabe, “ir aos bancos” é, hoje, privilégio só ao alcance de alguns.
Como o Dias Loureiro e o Duarte Lima, por exemplo, que são gente de boas contas e cumpridores zelosos das suas obrigações. Tal qual o dono do BES.
Dono do BES que, como foi tornado público, rectificou a sua declaração de IRS por três vezes e sempre para acrescentar mais uns milhões de euros de rendimentos; ou, também, como o senhor Américo Amorim, que recheou as contas da sua holding com a compra de milhares de pensos higiénicos.
A eles o “Fisco” não penhora salários e os bancos não sacam as casas. Talvez por não serem T1 ou T2 construídos com muita areia e pouco cimento; ou, simplesmente, porque não sabem ao certo se um dia não fazem deles ministros ou secretários de Estado.
Ou presidentes de conselhos de administração de bancos. E, por essa escolha, terem de lhes pagar 10 milhões de euros à cabeça, que foi o que exigiu o sábio Miguel Cadilhe para liderar o falido BPN. Mesmo que o tenha feito por escassos seis meses.
A tempo: O fotojornalista Daniel Rodrigues ganhou o primeiro prémio da categoria Vida Quotidiana do concurso de 2013 do World Press Photo com uma imagem de jovens a jogar futebol num campo de terra na Guiné-Bissau. Daniel é minhoto de Riba de Ave, tem 25 anos, trabalhou a recibos verdes e é um dos muitos de milhares de portugueses sem trabalho. Para sobreviver e “pagar as contas” teve de vender o seu material fotográfico. Deixo-lhe aqui um conselho, caro Daniel: concorra ao próximo “BES Photo”, pois pode ver o seu talento recompensado pelo banco do Dr. Ricardo Salgado.
Crónica publicada no semanário
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