Tiraram-lhe as cuecas e substituíram-nas por boxers;
Despiram-lhe a camisa 100% poliéster, e enfiaram-lhe uma com 30% de algodão, às risquinhas azuis-e-brancas;
Enfiaram-lhe um fato, cinzento escuro, e colocaram-lhe uma gravata verde ou vermelha em “pura seda”. E ele, assim, nestes preparos, passou a ser um tipo da classe média. Alta ou baixa.
Assim, estes sôtores podiam contrariar o destino traçado pelo passado dos pais. O média passou a frequentar os bancos das universidades, que passaram a comercializar cursos à medida da sua classe. Alta ou baixa.
Depois bem depois, deram-lhe crédito. Crédito para comprar casa, “não arrende, compre” lembram-se senhores da classe média? Baixa ou alta.
Um crédito que até dava para rechear a casa com um “bar de sala” e uma pequena estante com livros, que ano após ano continuavam impecavelmente novos.
Depois bem depois, deram à classe média, alta ou baixa, o dinheiro de plástico.
“Viaje agora e pague depois”; “Goze férias no Caribe” e testemunhe como os cubanos são pobrezinhos. Faça como a Virgem Maria: alerte o mundo para os perigos do comunismo.
E a classe média, baixa ou alta, assim fez. Chamou louco a Vasco Gonçalves; riu-se daqueles que lutavam pelo direito ao trabalho com mais e melhores regalias; fez casamentos em quintas e luas-de-mel em paraísos tropicais, que muitas vezes conspurcaram com as suas cuspidelas para o chão.
E alguns destes filhos da classe média, alta ou baixa, vitimaram artistas, cientistas, intelectuais, médicos e quadros classificados que aqui chegaram vindos de Leste.
Colocaram-nos ao seu serviço, sem quaisquer direitos. Em casa e nas obras, pois como um dia ouvi a um desses filhos da puta era chegado o tempo de “sermos nós a explorá-los”.
Colocaram-nos ao seu serviço, sem quaisquer direitos. Em casa e nas obras, pois como um dia ouvi a um desses filhos da puta era chegado o tempo de “sermos nós a explorá-los”.
Por isso, e também por isso, a classe média, alta ou baixa, baixa ou alta, trocou o seu voto por umas palmadinhas nas costas, um isqueiro ou uma varinha-mágica. E, assim, durante todos estes anos, os asnos concessionaram o país a quem os rouba e agora lhes tira as calças cinzentas e lhes arreia os boxers.
Agora, os ladrões que sempre contaram com o seu aplauso e voto legitimador querem que eles, os da classe média, alta ou baixa, baixa ou alta, voltem a ser operários do campo e das fábricas, escriturários, bancários, arquitectos, professores, doutores, a troco de pouco ou quase nada. Tal qual aconteceu com seus pais e avós; e que eles, os da classe média, alta ou baixa, baixa ou alta, renegaram a troco de um casório na quinta, umas férias a prestações no Brasil ou no Caribe, um carro com muitas luzinhas e um apartamento arrendado ao banco por 30 anos e que hoje já muitos não conseguem pagar.
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