segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Tirem a embaixadora da piscina.

Soares Novais


1 – Em declarações à edição deste mês da revista Alto Minho, Manuela Machado lamenta-se:
“… Como funcionária da Câmara não estou a fazer o trabalho que gostaria, que era trabalhar com as escolas e as crianças.”
Manuela Machado é uma das mais brilhantes figuras da história do atletismo português: campeã do Mundo (Gotemburgo, 1995), conquistou, também, duas medalhas de Ouro em campeonatos de Europa (Helsínquia 1994 e Budapeste 1998) e duas medalhas de Prata em campeonatos do Mundo (Estugarda 1993 e Atenas 1997).
A campeã, que preside ao Cyclones Atltético Clube, colectividade de Cardielos que tem centenas de atletas inscritos e um significativo palmarés de vitórias no ranking nacional de atletismo, ocupa os seus dias como recepcionista de uma piscina municipal. Tal actividade profissional deve-lhe acinzentar a existência e criar-lhe um enorme sentimento de frustração.

2 – “…Gostaria era de trabalhar com as escolas e as crianças.” Tal desejo de Manuela Machado parece-me justo. E justificado. Justificado pelo seu passado de campeã; e pelo exemplo que poderá transmitir aos jovens de Viana do Castelo e do Alto Minho.
Recordando-lhes, por exemplo, o que foi a sua dolorosa e exemplar participação na Maratona de Sidney 2000, onde apesar de traída pela doença correu até ao fim – terminou na vigésima posição. Mesmo que, após a prova, tenha sido transportada para o hospital. Eis o relato desse dia na primeira pessoa:
“Foi horrível, estava com 39,7 graus de febre mas cheia de frio. Colocaram-me placas de gelo pelo corpo, para baixar a temperatura, e deram-me soro, dois litros.”


3 – Num país tão recheado de figurinhas e figurões inventados pela ditadura dos canais televisivos, é da mais elementar justiça resgatar ao anonimato da recepção de uma piscina municipal a campeã Manuela Machado.
Não porque tal seja uma tarefa profissional menor, mas porque Viana do Castelo, o Alto Minho e o país precisam do seu exemplo de coragem e de luta. As crianças e os jovens gostarão de a ter a seu lado, seguramente.
Por mim, tenho uma certeza: Manuela Machado será uma excelente embaixadora do Alto Minho e uma figura capaz de congregar forças para o combate que urge travar pelo futuro de uma região cada vez mais esquecida pelo poder central e acossada pela fome e o desemprego.




Crónica publicada no dia 20 de Novembro  no semarário


                                                                                                

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