"Estive presa em Caxias, porque isto era tudo exagerado. Fomos 50 pessoas ao aeroporto esperar D. Maria Lamas, que vinha de um congresso da Paz. Parece que era um crime terrível. Assim que o avião parou, as pessoas que estavam à espera dela foram para Caxias. Havia lá mulheres completamente isoladas, mas sabíamos muito bem o que lhes faziam. É uma coisa horrível. Aquela gente não merecia o mais pequeno respeito. Aquilo marcou-me, porque entrei no sítio e vi as coisas como elas eram. Há coisas que passaram por mim, das quais já não me lembro. Mas há sempre memórias que ficam, como o 25 de Abril. O meu marido estava muito mal. Morreu no ano seguinte. Morávamos junto à Casa da Moeda. Eu só via o que se avistava da janela. Era uma coisa linda. Tive tanta pena de não poder ir para a rua. Nesse dia, fui comprar um cravo. Coloquei-o numa jarra junto ao meu marido. No final do dia estavam lá mais de 70 cravos. Tanta gente que lá passou. Ele dizia para o José Gomes Ferreira: «Eu vi, eu ainda vi.»
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Soares Novais
Revisito este depoimento, recolhido pelo jornalista Valdemar Cruz e publicado numa edição da Revista Única do Expresso, creio que em 2003, para prestar a minha homenagem a Maria Keil.
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Soares Novais
Revisito este depoimento, recolhido pelo jornalista Valdemar Cruz e publicado numa edição da Revista Única do Expresso, creio que em 2003, para prestar a minha homenagem a Maria Keil.
Sei da exemplar amizade que a unia a Matilde Rosa Araújo (*) e imagino-as, agora, de novo juntas, a escrever e a ilustrar.
- Sim, meu querido amigo, aceito. Mas com uma condição: as ilustrações têm de ser as ilustrações da Maria - disse-me Matilde quando, após a edição de "Os Direitos da Criança", lhe propus a publicação de uma das suas obras em que teve como parceira Maria Keil. Uma reedição que por minha única culpa não avançou.
De Maria Keil sei o que sobre ela li e aquilo que dela me contou Matilde no final de uma tarde inesquecível na Feira do Livro de Lisboa, em 2008.
Matilde disse-me, então, que Maria era generosa e simples.
Tal como Matilde.
Um cravo vermelho para Maria e Matilde, pois.
*Matilde Rosa Araújo morreu no dia 6 de Julho de 2010.
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