1 – É boa e rica a Cozinha Minhota.
Tão boa e rica que Ramalho Ortigão, Júlio Diniz e Camilo Castelo Branco, entre outros grandes Chefes da grande Literatura portuguesa, elogiaram a excelência dos seus sabores em prosas de fazer crescer água na boca.
Também o escritor Manuel Joaquim de Boaventura (Esposende, 1885/1973) evidencia os prazeres proporcionados pela gastronomia minhota. E fá-lo, desta forma soberba, em “Zé dos Telhados no Minho (Papelaria Liz, Barcelos, 1960), quando descreve o menu da Estalagem da Barca do Lago: “O moreno arroz de lampreia – do fugir pr’á cozinha, o capão de recheio, o anho ou trancão de vitela no espeto, o arroz de alguidar, colorido com açafrão e de aroma pascal, faziam o deleite dos glutões (…). Tudo era de lamber os dedos”.
Se juntarmos a estes manjares de deuses, o bacalhau à Gil Eanes de Viana do Castelo , o cozido e as “caralhas”, os rojões e o sarrabulho de Ponte de Lima, o cabrito de Arcos de Valdevez e o cabrito avinhado de Romarigães, a perdiz e o coelho bravo, o sável com mílharas, a excelência do “Alvarinho” e do vinho verde; e, claro, o talento das cozinheiras minhotas, percebe-se a razão pela qual o Minho é santuário de eleição para milhares de peregrinos gastronómicos. Além do mais, di-lo Ramalho Ortigão, o Minho é “a porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante” de Portugal.
2 – Todos estes predicados, fizeram das terras minhotas um destino turístico por excelência. Um destino turístico recheado de capelas e capelinhas de bem comer. Graças à simpatia das suas gentes e de micro, pequenos e médios empresários de restauração que agora vêem o seu futuro posto em causa. Atente-se , num recente comunicado do CEVAL – Conselho Empresarial dos Vales do Lima e do Minho:
“Dezenas de empresas do sector da restauração e similares do Alto Minho correm o risco de fechar as portas se o próximo Orçamento de Estado não baixar o IVA de 23 para 6%.”
Este grito de alerta dos empresários da Restauração minhota, que é o mesmo que outras centenas de empresários fizeram ecoar junto à Assembleia da República, chama ainda a atenção para o facto de "a manter-se a actual taxa de Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) serão aniquilados centenas de postos de trabalho" só no distrito de Viana do Castelo. Tal cenário, diz o CEVAL, pode representar “uma crise social sem procedentes para o Alto Minho”.
Alto Minho que, como se sabe e bem recorda o presidente do CEVAL, sente “os efeitos da introdução intempestiva da portagens nas ex-Sucts, além da ausência da concretização de investimentos estruturais previstos há vários anos». Sabe-se, ainda, que entre «Julho de 2011 e Julho de 2012, a média nacional de quebras de vendas na restauração e similares é de 30% a 40%” e que “as margens de lucro baixaram no mesmo período entre 40% a 45%”. E tudo se agravou quando a taxa do IVA aplicada ao sector da Restauração passou de 13% para 23%.
Ou seja: quando um caldo verde passou a pagar tanto de IVA como a mais cara jóia!
3 – Esta malfeitoria, decidida por quem não conhece a realidade do país e se junta a outras malfeitorias como o aumento generalizado de impostos por exemplo, coloca o sector do Turismo e da Restauração sob a ameaça da falência generalizada.
Uma desgraça, já se vê.
Uma desgraça que fará com que o caldo verde, volte a ser comida de pobres, “daqueles que trabalhavam no campo”, comido em casas cada vez mais habitadas por gente sem esperança e sem futuro. E longe, bem longe, das mesas de um sector que tem 100 000 postos de trabalho sob ameaça.
Crónica publicada no dia 23 de Outubro no
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