segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Maria da Fonte contra o abismo.

Soares Novais


1 – Soube-se há dias: um casal de jovens desempregados tem como “casa” o arco de uma ponte do rio Este, em Braga. Alexandra trabalhava numa empresa de limpezas e Luís foi técnico de informática, na Mota Engil  - um dos donos de Portugal.
Ambos foram despedidos em nome de uma “crise”, que garante 135 mil euros de reforma mensal a Jardim Gonçalves, católico da “Opus Dei”, com ligações ao Minho e cujo valor da pensão já quase fez engasgar o Arcebispo de Braga.
Alexandra e Luís são apenas dois rostos tornados públicos de um empobrecimento generalizado, que está a conduzir cada vez mais pessoas para “o abismo” segundo o presidente da junta bracarense de S. Vítor.
Um empobrecimento generalizado que faz com que o único albergue de Braga, destinado a pessoas com os problemas da Alexandra e do Luís, tenha à sua porta uma placa a dizer “lotação esgotada”.

2 – A “crise”, que também é responsável por um cada vez maior número de jovens chegar à escola com o estômago vazio, também bate à porta das instituições de Ensino público.
É o caso de Universidade do Minho cujo reitor, posto perante os cortes de verbas previstos no Orçamento para 2013, admite acabar com as aulas nocturnas e aos sábados, não ligar o aquecimento e rescindir contratos.
Já se sabe: o Orçamento do trio Passos, Portas & Gaspar é uma arma de destruição maciça da classe média e dos mais pobres de nós. Sucedem-se os protestos e neles participam as mais diversas classes profissionais. Como os empresários da restauração e os farmacêuticos,  que até agora pouco ou nada eram dados a manifestações de indignação.

3 – Perante tal empobrecimento generalizado, há quem clame a urgência de uma nova Maria de Fonte. A heroína do Minho que deu nome a uma revolta popular começada na Primavera de 1846.
A revolta liderada por Maria da Fonte foi o culminar de uma luta contra a fúria fiscal do governo de Costa Cabral e a privatização e expropriação dos bens públicos, sendo que o rastilho foi a proibição de enterrar os mortos nas igrejas e a obrigatoriedade de pagar um imposto para serem enterrados em espaços públicos, nos cemitérios.
Hoje, também as classes médias e populares são esmagadas por impostos e os bens públicos, porque usufruídos por todos,  são vendidos ao desbarato.    Há evidentes semelhanças entre as opções ideológicas de Costa Cabral, no século XIX, e aquelas que norteiam a acção do dueto Passos & Portas, no século XXI.
Passos & Portas, tal como Cabral, estão ao serviço de outros que não do povo. Daí, pois, a urgência de uma nova Maria da Fonte.   De uma Maria da Fonte que impeça a sepultura dos vivos!


 Crónica publicada
 no dia 30 de Outubro     no semanário


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