segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Saldar os estaleiros. Lesar o país.

 



Soares Novais


1 - A decisão do Governo em revogar a encomenda de seis Navios de Patrulha Oceânica e cinco Lanchas de Fiscalização Costeira aos Estaleiros de Viana só surpreende quem anda distraído e ainda não percebeu aquilo que move a equipa de Passos e Portas: entregar a privados aquilo que é de todos. Mesmo que por tuta e meia!
É assim com os Estaleiros de Viana do Castelo; é assim com a TAP e a RTP; é assim com a ANA; será assim com a Caixa Geral de Depósitos. Aliás, o ministro Álvaro, o ministro Portas e o ministro  José Pedro, que em algumas fotos parece mesmo um verdadeiro comissionista da REMAX, disso nos dão conta nas suas declarações; e, também, através das suas constantes deslocações pelo mundo para apresentar tais “produtos» a preço de saldo.
Os 630 trabalhadores dos Estaleiros, que ontem regressaram às ruas de Viana e contaram com a presença solidária de Arménio Carlos e de muitos vianenses, já não têm dúvidas sobre aquilo que levou o ministro da Defesa a revogar a encomenda feita em 2004. Atente-se nas declarações de António Costa, porta-voz da Comissão de Trabalhadores: “A empresa poderá ser vendida por um euro ou até de borla”. E explica porquê: “O ferryboat Atlântida, que integra o caderno de encargos da reprivatização como activo, foi encomendado por 50 milhões de euros e vale agora 35 milhões. Ora, tendo em conta que os ENVC têm um valor nominal de 29,9 milhões de euros, a empresa será vendida quase de borla”.

2 – As 4260 freguesias são uma das mais marcantes características da organização territorial do nosso país. A sua origem histórica  vem do tempo da cristianização da península pelos Romanos, portanto dos séculos III e IV, quando se formaram os embriões das paróquias.
Freguesias que passaram, evidentemente, por diversas transformações, confundindo-se a princípio com o avanço do culto cristão. “A própria designação dessas autarquias locais variou e sofreu alterações semânticas: «igreja», «diocese», «paróquia», «freguesia», «colação»”.  Tal qual esclarece o escritor Arsénio Mota, com quem partilhei afectos, camaradagem e sonhos na Redacção JN dos anos 80 e 90 do século passado, no seu blogue.
Por isso compreende-se bem a forte contestação à intenção governamental que prevê a extinção de um significativo número daquelas autarquias de proximidade. Uma contestação que se estende do Minho ao Algarve e congrega autarcas de todos os partidos.
Aliás, tenho para mim que a intenção de Relvas esconde um objectivo mais amplo: atacar o número dos concelhos e criar os círculos eleitorais uninominais.
Assim, os dois partidos maioritários poderão alternar-se «democraticamente» no poder.  Privatizando o país e colocando o Estado, isto é os cidadãos, ao serviço dos seus interesses.
Compete ao Povo, que cada vez mais ocupa as praças e ruas do país com sua indignação, impedi-los de fazer tais malfeitorias.



Crónica publicada no dia 2 de Outubro no semanário

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