segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um cravo vermelho para um Capitão de Abril.

Tive o privilégio de conhecer e privar com Marques Júnior - o Capitão de Abril, que hoje nos deixa e a quem aqui deixo este meu cravo vermelho.
A última vez que estive com ele pessoalmente foi nas comemorações dos 30 anos do 25 de Abril que tiveram como palco a livraria Arca das Letras, que eu então dirigia.
Durante esse mês de Abril de 2004 a Arca das Letras tornou-se palco de boas conversas à volta de "Abril e Maio".  Por ali passaram Beatriz Cal Brandão, símbolo maior da resistência ao fascismo: Miguel Veiga, advogado e personalidade cultíssima do Porto; César Príncipe, escritor e jornalista que falou sobre a Censura; e Marques Júnior, um dos heróis do MFA, que nos deixou as suas impressões sobre a Guerra Colonial e o "25 de Abril".
A conversa com Marques Júnior prolongou-se por várias horas. Primeiro, durante a sessão; depois, à volta da mesa o que o obrigou a partir rumo a Chaves, onde pernoitaria, já a noite ía alta.
Marques Júnior era um militar com biblioteca e por o ser não era um arrivista, um parvenu, como tão bem nos elucida Alexandre O'Neill em "Uma Coisa em Forma de Assim".
Nem sempre estivemos de acordo.
Mas uma coisa é certa: o seu número de telemóvel vai continuar a vigorar na minha lista.
É assim que faço com os amigos.
Com os meus amigos que teimam em deixar-me cada vez mais só.

Soares Novais

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Fernando Paulouro deixa Jornal do Fundão.

Rui Pelejão*



O pior de um país não é viver de estômago vazio enquanto a camarilha do costume arredonda a pança. O problema de Portugal é a coluna vertebral.
Um país curvado, de espinha sinuosa, chapelinho na mão e respeitinho que é muito bonito.
Um país dobrado, vergado, calado que macaqueia indignação nas redes sociais, mas que na sua essência é um país corcunda com o fardo da culpa que lhe querem carregar.
É um país de marrecos aos berros e de capatazes sem dó.
Neste país amordaçado e manietado a liberdade definha e a liberdade é o pão do espírito.
É dessa fome que morreremos todos, é dessa forma triste que iremos todos para a quinta casa se enfiarmos a canga e a mordaça que a corja impostora dos capatazes do liberalismo nos quer afivelar.
Por isso e por muito mais, o gesto e a voz de Fernando Paulouro Neves emerge no silêncio das indignações politicamente corretas.
O histórico diretor do Jornal do Fundão anunciou que iria renunciar ao seu cargo porque “o poder financeiro comanda tudo e o jornalismo tornou-se numa área de difíceis equilíbrios, onde não faltam sujeitos sem escrúpulos, capazes de vender a alma ao demónio com a justificação de salvar o negócio”.
Com a reverenda autoridade que lhe dá uma carreira de 40 anos ao serviço do Jornal do Fundão, da sua região, da cultura, do país e da liberdade, Fernando Paulouro ousou erguer a voz e denunciar pressões empresariais, contrárias ao estatuto editorial de um jornal que o seu tio António Paulouro fundou e que ele prosseguiu, não como mero curador, mas como verdadeiro artífice e ideólogo.
Fê-lo publicamente na apresentação do seu livro “Crónicas de um país relativo” que reúne precisamente a sua versátil e acutilante prosa – a primeira linha de combate, a armadura intelectual a um Jornal que sempre foi santuário da livre expressão, da pluralidade e refúgio de escritores e homens de cultura acossados pelos capatazes de bota engraxada, doutros e destes tempos.
O que leva Fernando Paulouro, um homem que dedicou toda a sua vida ao JF, a erguer a sua voz para denunciar aquilo que muitos calariam?
Essa é uma questão que a Controlinvest – a empresa proprietária do Jornal do Fundão – terá obrigatoriamente que esclarecer – sob o risco de desbaratar nuns dias aquilo que levou décadas a construir e a consolidar – a confiança dos leitores.
E sem essa, meus caros senhores, não há publireportagens nem fretezinhos que valham a esse “negócio” e o próximo obituário que cobrarem é precisamente o do Jornal de que não são donos, mas meros “inquilinos”.
Porque o JF é dos milhares de leitores espalhados pelo mundo que nas suas páginas reencontram não só o apelo da sua mais profunda identidade, mas também reflexão, pensamento e interrogações sobre o tempo em que vivem.
O JF é do meu avô, que sentado na cadeira do lar da velhice aguça o resto da vista para ler as gordas; o JF é do meu jovem amigo Mário, que faz filmes, trabalha num hostal em Lisboa e pede o JF emprestado ao pai para ler as crónicas do Fernando; o JF é do emigrante que na Suiça o recebe religiosamente para ver o resultado dos distritais e as novidades de terras tão distantes como as Aranhas ou Segura.
Os senhores dos negócios podem estar convencidos que o JF é deles, mas estão copiosamente enganados. Só será deles enquanto honrarem o compromisso com os leitores.
Um compromisso ético e de integridade. Se a empresa proprietária do JF quebrar esse compromisso, verá rapidamente que nenhuma gloriosa “modernização” lhe valerá.
É por isso que saúdo e admiro profundamente o gesto de Fernando Paulouro. Num tempo em que a coragem é apenas figura de retórica, Fernando Paulouro teve a coragem de não se acomodar a uma reforma ao som dos bombos laudatórias, da homenagem bacoca, da coluna no jornal reservada a antigos diretores, à avençazita, ao livrinho de memórias e ás tainadas com o poder.
Um gesto tão tremendo e solitário como o do Fernando Paulouro é um hino à liberdade – à dele e à nossa.
Num país de marrecos e capatazes, reino da trafulhice organizada, ver um jornalista com 40 anos de carreira abandonar a sua trincheira com a coluna intacta é um sinal para não nos rendermos. Bem haja Fernando Paulouro por nos teres alertado.
Está mais do que na hora de aguçar as baionetas!
PS: Gostava de saber se a hiperativa ERC do Sr. Magno tem alguma coisa a dizer sobre este assunto ou se está muito ocupada com as tricas de starletes de TV e de cervejeiros e seus donos. Provavelmente o Fundão fica demasiado longe do Pabe…
PS2: Desejo ao Nuno Francisco, novo diretor do JF, a melhor das sortes e a força e coragem para defender o património afetivo e de liberdade que recebe. Sei que não será um mero curador e que defenderá o “nosso” Jornal do Fundão. Conta com as nossas baionetas!


*Crónica publicada no A23 on-line


Nota do editor: O "Jornal do Fundão" é uma referência do Jornalismo. Foi sempre. Mesmo no tempo do Fascismo. Por acção do seu fundador e histórico Director António Paulouro.  O "JF" contribuiu para formar melhores leitores e melhores cidadãos. Tal qual aconteceu com o  "Comércio do Funchal" e o "Notícias da Amadora". Lamento a saída de Fernando Paulouro de um Jornal que, sob a sua direcção, soube honrar o legado de António Paulouro. Lamento que o poder financeiro, sob a batuta de um qualquer Leite, faça aquilo que a Ditadura não conseguiu e o queira transformar em mais um produto sem "alma" e recheado de lixo informativo.

Soares Novais

domingo, 23 de dezembro de 2012

Festas felizes para os de sempre.


Soares Novais


1 - Palavra de honra, gostava de ter a capacidade de olhar o “qwert” do meu computador e só escrever palavras bonitas. Parir prosa sem dor e  escrever  frases como esta, por exemplo:  “Meu caro leitor tenha Festas Felizes e um óptimo 2013”.
Mas não sou capaz. Por mais que tente. Por mais que queira ser politicamente correcto, seja lá isso o que for.
A profissão de jornalista e o coração não me concedem tal bênção.
Entendam-me:
- Noticiei naufrágios de pescadores da Póvoa e das Caxinas e escutei palavras de raiva às suas viúvas e filhos;
- entrevistei  demagogos e mentirosos;
- ouvi  bandidos de colarinho branco a discursar sobre a honradez;
- testemunhei  a ascensão e queda de ídolos do futebol;
- fui  voz e ouvidos dos pagadores de promessas em Fátima e de operários abandonados à porta de fábricas que os patrões encerraram sem aviso prévio;
- fixei os rostos de dor de mães sem recursos para alimentarem os seus filhos.
Conheço a vida. Tal qual ela é. Sem máscaras e sem pudor. Sem galas televisivas de Natal, sem abraços, beijinhos e palmadinhas nas costas daqueles que são “os homens esquecidos de deus”, como diz  Albert Cossery*  e do qual reproduzo este breve passo:
(...)
— A festa não é para nós, meu filho —, disse ele.
— Nós somos pobres.
O garoto chorou, chorou amargamente.
— Não me interessa; quero um carneiro.
— Somos pobres —, repetiu Chaktour.
— Somos pobres porquê? —, perguntou a criança.
O homem reflectiu antes de responder. Depois de tantos anos de indigência tenaz, ele próprio não se lembrava porque eram pobres. Era uma coisa que vinha de muito longe, de tão longe que Chaktour já não se lembrava como tinha começado. Dizia para si próprio que a miséria que se prolongava para além dos homens. Apanhara-o desde a nascença e ele logo lhe pertencera, sem a menor resistência, visto que lhe estava destinada muito antes de ter nascido, ainda na barriga da mãe.
A criança estava sempre à espera que lhe explicassem porque eram pobres. Deixara de chorar, mas ainda havia muitas lágrimas dentro de si, todas as lágrimas das crianças miseráveis cujos sonhos são traídos pela vida.
— Escuta, pequeno, vai-te sentar num canto e deixa-me trabalhar. Se somos pobres é porque Deus nos esqueceu, meu filho.
— Deus! —, exclamou a criança. — E quando se lembrará ele de nós, meu pai?
— Quando Deus esquece alguém, é para sempre.
(...)


2 –  Acontece, pois,  que, e apesar da minha confessada falta de talento para olhar o “qwert” do meu computador e escrever coisas bonitas, tudo aquilo que os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem não ajuda. Bem pelo contrário. Atente-se:
- Os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo vítimas, entre outras maldades, de um criminoso assédio moral por parte do Estado continuam a ter as suas vidas sem rumo;
- Há no distrito mais de 15 mil desempregados;
- Os pescadores de Castelo de Neiva continuam a ser engolidos pelo mar, pois nunca mais é construído o portinho que os protegeria;
- As cantinas das escolas mantêm-se abertas,  durante a  quadra natalícia, para que cada vez mais crianças possam aconchegar os seus estômagos vazios;
- Micro, pequenas e médias empresas são obrigadas a fechar portas; asfixiadas pelos impostos e pela voracidade dos bancos;
- Os mais velhos de nós continuam a ter reformas e pensões de miséria;
- Aos funcionários públicos e da Administração Local tiraram-lhes o 13º e o 14º mês;
- Cortam na Saúde e na Educação;
- Cortam no apoio à Cultura, que é bem de primeira necessidade;
- Convidam os mais jovens e classificados de nós a emigrar;
- Uma sopa paga os mesmos 23% de IVA do que a mais cara jóia;
- Temos um primeiro-ministro que diz que os salários devidos aos trabalhadores do Estado são despesa;
- Aceita-se que o dr. Catroga aufira mais de 35 mil euros mensais na EDP e que o engº Jardim Gonçalves tenha uma reforma de 200 mil a cada 30 dias;
- Pagamos o 13º e o 14º mês às girls e aos boys escolhidos pelo dueto Passos & Portas;
- Só alguns se indignam com o facto de Assunção Esteves se ter reformado aos 42 anos e que os deputados tenham votado favoravelmente um orçamento da Assembleia da República que lhes permite continuar a receber o subsídio de férias e o subsídio de Natal, como se pode confirmar junto daqueles que representam o nosso distrito;
- O filho do engº Belmiro e a filha de José Eduardo dos Santos ganham milhões em bolsa e o comendador Amorim continuará a figurar na lista dos mais ricos do país.
Para estes, sim, as festas natalícias serão boas e felizes. Como sempre.
Para os outros, para os homens esquecidos de deus, que somos a imensa esmagadora maioria, as festas natalícias são um ritual.
Um ritual que evita termos de mentir aos nossos filhos, usando a mesma metáfora de Albert Cossery.
Mesmo que tal mentira evite a imediata condenação daqueles que nos assassinam com, evidente,  “frieza tecnocrática”.




*Albert Cossery (Cairo 1913-2008) Considerado um mestre do escárnio, Cossery foi também um profeta do prazer e da preguiça. Habitou o mesmo quarto do hotel La Louisiane, situado no coração de Saint-Germain-des-Prés em Paris, desde 1951. Foi amigo de Boris Vian, Jean Genet, Henry Miller e Albert Camus. “os homens esquecidos de deus” são uma tradução de Ernesto Sampaio para a “Antígona” (2002),
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 Crónica publicada no dia 24 de Dezembro no semanário




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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pais natal a 43 cêntimos.

 
Soares Novais


1 - A empresa de S. Romão do Neiva, que há anos organizava o desfile de pais natal pelas ruas do Porto, não resistiu à crise e fechou as portas.
Resultado: este ano não há pais natal a alegrar a malta, não é batido novo recorde de figurantes e o presidente da câmara da Invicta, que gosta de se mostrar no Porto e refugiar-se em Viana do Castelo, tem menos um motivo para assomar à janela. É a crise, sem brilho nem pudor.
Uma crise que já não poupa os pais natal e até os obriga a trabalhar a troco de 43 cêntimos à hora. Como acontece em Penafiel, onde a associação empresarial contratou quatro operários da construção civil, inscritos no centro de emprego, para os passear travestidos pelo centro histórico do berço de D. António Ferreira Gomes - o bispo do Porto que ousou afrontar Salazar e pagou com o exílio tal feito.
A miséria paga aos quatro desempregados pela entidade que congrega os empresários (?) penafidelenses é uma provocação a todos os desempregados e uma afronta a todos os empresários com moral. Uma afronta que conta com o silêncio cúmplice do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Mas também é um alerta vermelho para cada um dos 1 milhão e 300 mil desempregados que, assim, ficam a saber que alguns patrões, aproveitando-se da política troikana, tudo estão a fazer para que o nível de vida dos portugueses regresse à Idade Média. Ou seja: a um tempo em que os trabalhadores davam pelo nome de servos, tendo todas as obrigações e nenhuns direitos.

2 – José Carlos Ary dos Santos escreveu a “Tourada” há 40 anos, nos finais de 1972. E Fernando Tordo cantou-a triunfalmente no Festival RTP de 1973.
Tal como hoje, o país exibia “empresários moralistas” que davam azo a canções: “entra muito dólar/muita gente/que dá lucro aos milhões”. Mas o Povo e as suas Forças Armadas souberam trocar as voltas ao destino traçado pelos “galifões de crista”.
Por ser tão dramaticamente actual, aqui fica o poema de Ary:
 “Não importa sol ou sombra/camarotes ou barreiras/toureamos ombro a ombro/as feras./Ninguém nos leva ao engano/toureamos mano a mano/só nos podem causar dano/espera./Entram guizos chocas e capotes/ e mantilhas pretas/entram espadas chifres e derrotes/ e alguns poetas/entram bravos cravos e dichotes/porque tudo o mais/ são tretas./Entram vacas depois dos forcados/ que não pegam nada./Soam brados e olés dos nabos/ que não pagam nada/e só ficam os peões de brega/cuja profissão/ não pega./Com bandarilhas de esperança/ afugentamos a fera/estamos na praça/ da Primavera./Nós vamos pegar o mundo/ pelos cornos da desgraça/ e fazermos da tristeza/ graça./ Entram velhas doidas e turistas/entram excursões/ entram benefícios e cronistas/entram aldrabões/entram marialvas e coristas/entram galifões/ de crista./Entram cavaleiros à garupa/ do seu heroísmo/entra aquela música maluca/ do passodoblismo/entra a aficionada e a caduca/ mais o snobismo/ e cismo.../Entram empresários moralistas/entram frustrações/entram antiquários e fadistas/ e contradições/e entra muito dólar/muita gente que dá lucro as milhões./E diz o inteligente/ que acabaram as canções.”

 

 Crónica publicada no dia 18 Dezembro no semanário

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Carlos Carvalhas bem avisou.

 «A moeda única é um projecto ao serviço de um directório de grandes potências e de consolidação do poder das grandes transnacionais, na guerra com as economias americanas e asiáticas, por uma nova divisão internacional do trabalho e pela partilha dos mercados mundiais.
A moeda única é um projecto político que conduzirá a choques e a pressões a favor da construção de uma Europa federal, ao congelamento de salários, à liquidação de direitos, ao desmantelamento da segurança social e à desresponsabilização crescente das funções sociais do Estado.»







Carlos Carvalhas, Secretário-geral do PCP — «Interpelação do PCP sobre a Moeda Única», 1997

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Poeta morreu.

O telefone tocou e o César Príncipe deu-me a notícia:
- Olha, o  Papi morreu!
Pouco passava das cinco da tarde de hoje.
Desde de Abril último que não visitava o Papiniano Carlos e a Olívia de Vasconcelos, sua companheira de sempre.
O Papi estava impedido de descer até à sala, onde tinha todas as suas memórias, todos os seus escritos, toda a sua Vida.  E um  Homem como o Papiniano Carlos, que sempre viveu de pé, não merecia tal castigo.
Orgulho-me de ter editado "A viagem de Alexandra" e "O cavalo das sete cores", com ilustrações de Elsa Lé e de Fedra Santos, respectivamente.
Agradeço-lhe considerar-me seu Amigo.
Orgulho-me de ser seu Camarada.


Soares Novais 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

15096 sem trabalho.

Soares Novais



1 - Tal qual acontece em todo o país, também no Alto Minho o número de desempregados não pára de aumentar. Em Outubro, o Centro de Emprego de Viana do Castelo tinha 15096 inscritos. Um número que anuncia uma “catástrofe social” como assinala Branco Viana, coordenador da União de Sindicatos.
Mas, também como acontece em todo o país, tal número pode pecar por defeito, pois há quem já tenha perdido o direito ao Fundo de
Desemprego ou simplesmente tenha desistido de se inscrever. Ou seja: podemos estar a falar de um número bem próximo dos 17 mil desempregados.
Analisando os últimos dados do Instituto de Emprego e Formação
Profissional (IEFP) verifica-se que, dos dez municípios que constituem o distrito, Viana do Castelo lidera com 5569, logo seguido de Ponte de Lima com 2407 e Arcos de Valdevez com 1074.
Entre Outubro de 2011 e Outubro de 2012, Viana regista mais 865
desempregados, enquanto as vizinhas Ponte de Lima e Arcos mais 440 e 207.
Uma tendência de subida que se espalha como praga a todo
o distrito e a que Melgaço não fica imune. Melgaço que, embora seja o Concelho com menor número (257), viu aumentar em 89 os
habitantes de braços caídos. Mais 50%.

2 – Teixeira dos Santos, o professor de Economia que antecedeu o
professor Vítor Gaspar na pasta das Finanças, que já lhe mereceu
rasgados elogios, confessou temer que “o desemprego se torne
estrutural” e “subsista mesmo havendo retoma da actividade económica”.
Ou seja, o antigo ministro das Finanças vem agora admitir aquilo para que  há muito outros alertaram: muitas das vítimas da crise correm o risco de jamais ter uma ocupação remunerada.
O ex-ministro de Sócrates, que tem como hobbie ser jardineiro de fim de semana no refúgio de Vila Nova de Cerveira, saberá do que fala.
A desgraça que hoje atinge o país e os portugueses também contou com a sua preciosa mãozinha.  Sobretudo - recorde-se - quando nacionalizou os prejuízos do BPN,   asseverando-se que tal operação de resgate teria custo zero para os portugueses. 
Viu-se. Cinco mil milhões de euros saltaram dos bolsos dos portugueses para tapar o colossal buraco do banco administrado por ex-ministros e  dilectos do doutor Cavaco.



Crónica publicada no dia 4 de Dezembro no semanário

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Policarpo agradece.

Com o fim anunciado da Escola para todos, já estou a ver o Cardeal de Lisboa a esfregar as mãos de contente: os seminários vão voltar a encher-se de alunos.
Como acontecia no tempo da Outra Senhora.
Essa será a única forma dos filhos varões dos pobres, isto é da esmagadora maioria da população, poderem estudar.

Soares Novais

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O regresso do Avelino.

O doutor Avelino admite voltar a candidatar-se à presidência da Câmara do Marco de Canavezes.
Acho bem que o senhor engenheiro Ferreira equacione tal possibilidade.
Além do mais, o povo do Marco já tem saudades do arquitecto Torres.
Sem dúvida um dos mais conhecidos cromos da  lusitana fanfarronice.

Soares Novais

Nota: Os títulos académicos aqui expressos estão de acordo com os três cursos adquiridos no Brasil. Tal qual o próprio referiu a uma rádio local, há já alguns anos.




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O silêncio cúmplice de Campos Ferreira.

 Soares Novais


1 -  Luís Campos Ferreira deu uma extensa entrevista, ao suplemento de Economia de dois diários nacionais, mas não fez uma única referência ao futuro dos Estaleiros e dos seus trabalhadores.
Estranho tal silêncio.
E explico porquê:
O deputado laranja,  preside  à  Comissão de Economia e Obras Públicas da Assembleia da República,  é natural do Distrito de Viana do Castelo e em meados de Outubro liderou uma visita de deputados ao Alto Minho para que os eleitos pelo povo ficassem “a conhecer os problemas reais da Região e da população”.
“Temos de ter a frontalidade de nos encontrarmos com a comissão de trabalhadores e com a administração dos Estaleiros para reflectirmos sobre o presente e o futuro da empresa”, disse, então, Luís Campos Ferreira que acrescentou:
-  Os Estaleiros fazem parte da afirmação histórica do distrito.
Um mês após a visita  parlamentar,   e quando este horrível ano de 2012 caminha para o fim e o futuro dos trabalhadores do maior construtor naval nacional continua recheado de perturbadoras e negras nuvens, impunha-se  que Luís Campos Ferreira aproveitasse a oportunidade para dar a conhecer a sua opinião, pois como disse na entrevista “a Economia não são só folhas de Excel”.
Não o fez.
E não o fazendo o seu silêncio torna-se cúmplice.
Cúmplice das maldades que se anunciam.

2 -  Entretanto, e segundo notícia a edição on-line do SOL, o ministro da Defesa quer que a Procuradoria-Geral da República, apure todas as responsabilidade que envolveram a recusa da açoriana Atlanticoline em receber o navio encomendado aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
Relembro: a empresa pública dos Açores acabou por recusar o navio, com capacidade para 750 passageiros, entretanto construído, alegando que não cumpria o exigido no caderno de encargos, nomeadamente, quanto à velocidade, menos 2 nós.
O ministro da Defesa, que falava na audição sobre o Orçamento do Estado sobre Defesa, na semana passada, concordou com as críticas feitas pelo PCP a este processo, questionando mesmo: «Como é possível que o Governo socialista tenha feito um acordo com outro Governo socialista para prejudicar os ENVC?».
O  acordo,  conseguido através do tribunal arbitral, impõe aos ENVC o pagamento de uma indemnização de 40 milhões de euros à empresa pública açoriana e implicou ainda a desistência de um segundo navio, o Anticiclone, cuja construção estava numa fase inicial.
Como se vê, por mais este caso, aos trabalhadores dos Estaleiros poucas ou nenhumas culpas podem ser assacadas pelo naufrágio que atirou o transatlântico ENVC para o mais fundo dos mares.
Outros o fizeram.
E  fizeram-no  para,   agora,  o resgatar  e entregar a troco de “dez reis de mel coado”.  Como se verá muito em breve.


Crónica publicada no dia 27 de Novembro no semanário

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Acácio de Carvalho no "Cinema de Artista".

Acácio de Carvalho integra o júri do  "1º IAC CINE 2012 - FESTIVAL NACIONAL DE CINEMA DE ARTISTA" que decorrerá, entre 29 de Novembro e 2 de Dezembro, no Instituto de Arte Contemporânea da Universidade de Pernambuco (Brasil).
O Festival, que premiará monetariamente os três primeiros classificados, terá como palco o Centro Cultural Benfica (CCB) da UFPE, na cidade do Recife.  O regulamento e a ficha de inscrição já se encontram disponiveis no Blog do Festival (www.blogiac.wordpress.com).
O artista plástico português regressa, assim, ao Recife e à Universidade de Pernambuco onde em Setembro de 2010 realizou a exposição  "TRAÇOS"  com base em composições feitas com desenhos e pintura sobre telas cosidas com couros e plásticos, entre outros materiais.

Tirem a embaixadora da piscina.

Soares Novais


1 – Em declarações à edição deste mês da revista Alto Minho, Manuela Machado lamenta-se:
“… Como funcionária da Câmara não estou a fazer o trabalho que gostaria, que era trabalhar com as escolas e as crianças.”
Manuela Machado é uma das mais brilhantes figuras da história do atletismo português: campeã do Mundo (Gotemburgo, 1995), conquistou, também, duas medalhas de Ouro em campeonatos de Europa (Helsínquia 1994 e Budapeste 1998) e duas medalhas de Prata em campeonatos do Mundo (Estugarda 1993 e Atenas 1997).
A campeã, que preside ao Cyclones Atltético Clube, colectividade de Cardielos que tem centenas de atletas inscritos e um significativo palmarés de vitórias no ranking nacional de atletismo, ocupa os seus dias como recepcionista de uma piscina municipal. Tal actividade profissional deve-lhe acinzentar a existência e criar-lhe um enorme sentimento de frustração.

2 – “…Gostaria era de trabalhar com as escolas e as crianças.” Tal desejo de Manuela Machado parece-me justo. E justificado. Justificado pelo seu passado de campeã; e pelo exemplo que poderá transmitir aos jovens de Viana do Castelo e do Alto Minho.
Recordando-lhes, por exemplo, o que foi a sua dolorosa e exemplar participação na Maratona de Sidney 2000, onde apesar de traída pela doença correu até ao fim – terminou na vigésima posição. Mesmo que, após a prova, tenha sido transportada para o hospital. Eis o relato desse dia na primeira pessoa:
“Foi horrível, estava com 39,7 graus de febre mas cheia de frio. Colocaram-me placas de gelo pelo corpo, para baixar a temperatura, e deram-me soro, dois litros.”


3 – Num país tão recheado de figurinhas e figurões inventados pela ditadura dos canais televisivos, é da mais elementar justiça resgatar ao anonimato da recepção de uma piscina municipal a campeã Manuela Machado.
Não porque tal seja uma tarefa profissional menor, mas porque Viana do Castelo, o Alto Minho e o país precisam do seu exemplo de coragem e de luta. As crianças e os jovens gostarão de a ter a seu lado, seguramente.
Por mim, tenho uma certeza: Manuela Machado será uma excelente embaixadora do Alto Minho e uma figura capaz de congregar forças para o combate que urge travar pelo futuro de uma região cada vez mais esquecida pelo poder central e acossada pela fome e o desemprego.




Crónica publicada no dia 20 de Novembro  no semarário


                                                                                                

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O regresso do Marco.

Soares Novais





"Até ao final do ano haverá mudanças no Governo."
O anúncio foi feito pelo vice-presidente da Câmara de Gaia.
Tal mudança, diz Firmino Pereira, garante o regresso do escolhido de Menezes à edilidade. 
"É o cenário que todos nós desejamos", enfatizou o dito Firmino.
Os "laranjinhas", os  "populares" gaienses e os empreiteiros de todas as latitudes podem dormir descansados, pois.
O grande Marco está de regresso!





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um grande português.

«Temos que mostrar que o nosso amor pelo país não é platónico», disse o dr. Passos.
Tão grande frase só podia ser dita por um "sábio".
Por um "grande português".
Temos de "tirar-lhe as medidas" para lhe erguer uma estátua.
Tal qual recomendou o secretário Rosalino.

                                                                                Soares Novais





terça-feira, 13 de novembro de 2012

Todos à greve geral.

"A quadrilha do coronel".

Soares Novais


1 – A inauguração da estátua de Nuno Santa Maria, que também foi o cavaleiro militar D. Nuno Álvares Pereira, constituiu uma verdadeira charanga. Tão barulhenta e desafinada foi.
O convidado especial faltou à cerimónia promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Barcelos (SCMB); mandou a sua subsecretária, que entrou muda e saiu calada; o edil foi vaiado, pois continua por cumprir a sua promessa de baixar o preço da água; uma familiar do antigo provedor Mário de Azevedo, que decidiu encomendar a estátua, foi impedida de falar; e um coronel, considerado especialista em história militar, que devia fazer o elogio de D. Nuno, fez um longo discurso a clamar contra a “quadrilha”, isto é, contra o povo de Barcelos.
Povo de Barcelos que aproveitou a presença de tanta ilustre gente para protestar contra as medidas que o empobrece e que, como se sabe, merecem o apoio de Portas – o tal convidado especial que à
última da hora não apareceu.


2 – Dizem as notícias que “o povo foi afastado dos ilustríssimos convidados por um significativo cordão policial, grades e vasos.” Mas isso não impediu o povo de gritar o que lhe vai na alma: “Portas ladrão, o teu lugar é na prisão”; “Gatunos”; “Está na hora do Governo ir embora”; e outros mimos que, cá para nós que ninguém nos houve, são inteiramente justificados pelo facto de minhotos e nortenhos encabeçarem a longa lista daquela que é actualmente a maior empresa portuguesa: Desemprego SA. Sociedade anónima sim, pois ignora os vivos e assinala os mortos.


 3 - Eu sei que é chato ir a “festas e baptizados sem ser convidado.” Mas, também, sei que “quem não se sente, não é filho de boa gente”. E esta gente do Alto Minho e de Barcelos é filha de boa gente.
Por isso clamou contra as injustiças e fez “ouvidos de mercador” às acusações que lhe foram dirigidas por um coronel que, do alto do seu saber, os acusou de ser uma “quadrilha”.
Para mim, o senhor coronel, que chegou a afirmar que “se Portugal quer a democracia conduzida à perda da independência nacional, então maldita que seja a democracia e eu sou o primeiro a ir acabar com ela”, tem graves problemas de compreensão e visão:
- Não é o povo que conduziu o país para a perda da independência nacional; e não foi o povo que “encheu os bolsos” com o BPN e muitos outros negócios de igual quilate.


Nota final: O filme “Cônsul de Bordéus” já está em exibição. Foi rodado em Viana do Castelo e retrata a enorme coragem e entrega pessoal do diplomata Aristides de Sousa Mendes, que contrariando Salazar, atribuiu trinta mil vistos a refugiados perseguidos pelo regime nazi em 1940. O cônsul foi expulso da carreira diplomática e morreu na miséria. A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, onde nasceu e hoje alberga a Fundação Aristides Sousa Mendes, encontra-se numa situação de ruína iminente. Urge dignificar e perpetuar a sua memória.



Crónica publicada no dia 13 de Novembro no


terça-feira, 6 de novembro de 2012

"Gatunos, gatunos" clamaram os polícias.

Título da edição digital da "RR":

"Cinco mil polícias gritaram  'gatunos, gatunos' frente ao parlamento."

Para quem ainda tivesse dúvidas,  a classe profissional que melhor conhece os ladrões encarregou-se de as tirar.


Soares Novais






 

Missivas minhotas pelos baldios e contra a pobreza.

Soares Novais




1 - Os Conselhos Directivos e as Juntas de Freguesia da Região do Alto Minho estão contra a intenção governamental de transferir a gestão dos baldios para as Comunidades Intermunicipais (CIM’s).
E dizem-no, claramente, em carta enviada ao secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, minhoto de Ponte de Lima, que bem conhece a importância dos baldios da região.
Para aquelas entidades a transferência da gestão dos baldios para as CIM’s significa “roubar” este importante património aos seus legítimos donos que são os compartes.
Os baldios, que são terrenos sem dono individual e dos quais os vizinhos de um ou mais povoados podem tirar proveito de “acordo com a natureza do terreno e respeitando os usos”, são património secular do povo e bolsas de resistência de muitas aldeias da região, que teimam em sobreviver ao isolamento e ao profundo êxodo rural que as afecta. E são, também, bolsas de reconhecida importância económica social e ambiental dos espaços comunitários.


2 – Quem também manifesta as suas preocupações por escrito é o presidente da freguesia de Sá, em Monção. E fá-lo em e-mail enviado aos deputados do CDS/PP e do PSD, que representam o Alto Minho.
Solicitando uma audiência “com carácter de urgência”, o autarca de Sá quer “sensibilizar” e alertar os deputados do Alto Minho para o impacto que o Orçamento de Estado para 2013, aprovado na generalidade, poderá ter no país e na região.
Na missiva electrónica, o presidente da Junta de Freguesia de Sá aponta um “conjunto de medidas” que, diz, podem conduzir “o nosso Distrito de Viana do Castelo” para “uma recessão histórica.”
O líder da freguesia de Sá pretende ainda debater a actual situação do sector da Restauração e Hotelaria, “ferido de morte, mercê do aumento do IVA para 23% e da redução do consumo”, numa região turística por excelência.

3 - As cartas já chegaram aos seus destinatários.
Resta agora saber se Campelo e os deputados populares e social-democratas alto-minhotos querem ouvir as angústias e apoiar os alertas dos seus conterrâneos e eleitores;

 ou se preferem fazer ouvidos de mercador e apenas escutarem as directrizes do dueto Passos & Portas  - mesmo que isso signifique atirar “drástica e violentamente a nossa região para a pobreza”, tal qual afirma o autarca de Sá.



Crónica publicada no dia 6 de Novembro no semanário